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Mostrando postagens de outubro, 2025

Catequese Digital – ou o amor nos tempos do YouTube

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  Era um domingo de sol preguiçoso, desses que a alma cochila depois do almoço. A vizinhança dormia, o ventilador rangia, e eu pecador comum abri o YouTube como quem abre o confessionário. Eis que surge, luminosa, uma mulher católica dando conselhos sentimentais a homens católicos. Ela falava com a convicção de quem já salvou meia dúzia de corações e perdeu os outros na estatística. Dizia que “não é difícil conversar com uma mulher católica”  e eu pensei: claro que não, difícil é saber se ela é católica mesmo ou apenas frequenta a missa como quem frequenta uma cafeteria com boa acústica. A pregadora, entre um sorriso e outro, oferecia uma lista de virtudes: observar as pulseiras de consagração, estudar os hábitos da moça, saber o horário da missa. Quase um manual de caça espiritual, com mais tática que oração. Mas e aqui Nelson Rodrigues ergueria o dedo teatral esquecia o detalhe mais trágico: há mulheres que falam demais e outras que já esqueceram o verbo “falar”. Vivemos ...

O Que é o Jogo de Jumanji

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  O jogo de Jumanji é um artefato místico e amaldiçoado, um tabuleiro (ou, nas versões modernas, um videogame) que suga os jogadores para dentro de si, obrigando-os a enfrentar seus próprios medos, pecados e vaidades. Ele não é um simples passatempo: é uma provação espiritual, uma espécie de purgatório travestido de aventura, onde o jogador só vence quando deixa de fugir de si mesmo. Em outras palavras: Jumanji é o mundo interior de cada um, transformado em selva — caótica, perigosa e cheia de monstros que têm o rosto dos nossos erros.  O simbolismo do jogo O tabuleiro é o destino — uma entidade que não pergunta se queremos jogar. Ele simplesmente lança os dados e nos empurra à luta. Os dados são a liberdade — parecem dar escolha, mas já estão contaminados pelo acaso, pelo absurdo da existência. A selva é o inconsciente — onde os instintos dormem, onde o homem civilizado é forçado a reaprender a sobreviver. Cada rodada do jogo é um teste moral, uma humilhação necessár...

Jumanji – O Tabuleiro da Alma Humana

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  Em Jumanji, ninguém joga por vontade própria joga porque a vida é um dado que insiste em rolar. A sinopse, aliás, é simples como o inferno: um grupo de pessoas encontra um jogo misterioso que, ao ser iniciado, toma conta da realidade. Cada jogada traz monstros, perigos e, pior que tudo, verdades. Porque Jumanji não é um jogo é o espelho moral de quem o joga. Alan Parrish, o menino que desaparece no tabuleiro, é o símbolo da alma aprisionada pelo medo. Ele foge do pai, da responsabilidade, do tempo — e o jogo o engole. Quando retorna, o mundo mudou, mas ele continua o mesmo: um adulto com traumas de criança. É o Adão que nunca saiu do Éden, condenado a se esconder entre cipós e leões. Sarah Whittle é a culpa viva. Foge do jogo, foge de si, foge do amor. Mas o jogo como Deus não esquece ninguém. Um dia, a partida recomeça. E lá está ela, obrigada a confrontar aquilo que fingia ter esquecido. Em Jumanji: Bem-Vindo à Selva, os pecados mudam de roupa, mas continuam os mesmos. Spencer,...