Catequese Digital – ou o amor nos tempos do YouTube

Era um domingo de sol preguiçoso, desses que a alma cochila depois do almoço. A vizinhança dormia, o ventilador rangia, e eu pecador comum abri o YouTube como quem abre o confessionário. Eis que surge, luminosa, uma mulher católica dando conselhos sentimentais a homens católicos. Ela falava com a convicção de quem já salvou meia dúzia de corações e perdeu os outros na estatística. Dizia que “não é difícil conversar com uma mulher católica” e eu pensei: claro que não, difícil é saber se ela é católica mesmo ou apenas frequenta a missa como quem frequenta uma cafeteria com boa acústica. A pregadora, entre um sorriso e outro, oferecia uma lista de virtudes: observar as pulseiras de consagração, estudar os hábitos da moça, saber o horário da missa. Quase um manual de caça espiritual, com mais tática que oração. Mas e aqui Nelson Rodrigues ergueria o dedo teatral esquecia o detalhe mais trágico: há mulheres que falam demais e outras que já esqueceram o verbo “falar”. Vivemos ...