Jumanji – O Tabuleiro da Alma Humana


 

Em Jumanji, ninguém joga por vontade própria joga porque a vida é um dado que insiste em rolar.

A sinopse, aliás, é simples como o inferno: um grupo de pessoas encontra um jogo misterioso que, ao ser iniciado, toma conta da realidade. Cada jogada traz monstros, perigos e, pior que tudo, verdades. Porque Jumanji não é um jogo é o espelho moral de quem o joga.

Alan Parrish, o menino que desaparece no tabuleiro, é o símbolo da alma aprisionada pelo medo. Ele foge do pai, da responsabilidade, do tempo — e o jogo o engole. Quando retorna, o mundo mudou, mas ele continua o mesmo: um adulto com traumas de criança. É o Adão que nunca saiu do Éden, condenado a se esconder entre cipós e leões.

Sarah Whittle é a culpa viva. Foge do jogo, foge de si, foge do amor. Mas o jogo como Deus não esquece ninguém. Um dia, a partida recomeça.

E lá está ela, obrigada a confrontar aquilo que fingia ter esquecido.

Em Jumanji: Bem-Vindo à Selva, os pecados mudam de roupa, mas continuam os mesmos.

Spencer, o inseguro, transforma-se num herói musculoso um Narciso digital que descobre que força sem coragem é vaidade.

Fridge, o atleta arrogante, aprende o sabor amargo da humildade quando é obrigado a servir.

Bethany, a musa narcisista das redes, vira um homem gordo ironia divina de um tempo em que a beleza virou religião.

E Martha, a tímida, descobre que coragem não é ausência de medo, mas a decisão de continuar mesmo tremendo.

Cada um entra em Jumanji para sobreviver, mas sai de lá renascido ou ao menos um pouco menos mentiroso.

Porque o jogo é, no fundo, uma confissão.

A selva é o confessionário.

E os dados são as tentações.

Jumanji nos mostra que o ser humano só se revela quando é jogado contra si mesmo.

Aqueles que tentam trapacear o jogo como os que tentam trapacear a vida acabam engolidos por ela.

E talvez, no fim das contas, o tabuleiro nunca tenha acabado.

A diferença é que hoje ele se chama “vida adulta”.

E cada escolha, cada deslize, é mais uma jogada.

Quem dera houvesse um “fim de partida” que nos libertasse mas enquanto isso não vem, seguimos jogando, perdendo e, com sorte, aprendendo.


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