Crítica de “Questão de Tempo” (2013): O Amor Como Uma Viagem no Tempo


Sinopse

Em Questão de Tempo (About Time), dirigido por Richard Curtis, conhecemos Tim (Domhnall Gleeson), um jovem que descobre, aos 21 anos, que os homens da sua família têm um dom peculiar: podem viajar no tempo. Mas há uma regra – eles só podem voltar para momentos de sua própria vida. Tim então usa esse dom para melhorar sua existência, especialmente no amor. Ele tenta conquistar Mary (Rachel McAdams), cometer menos gafes e construir um relacionamento ideal. Mas, ao longo da jornada, percebe que nem tudo pode ser controlado e que, mais do que corrigir erros, a vida precisa ser vivida com autenticidade.


O Sonho de Todo Homem: Voltar Atrás e Fazer Melhor


Ah, se fosse possível voltar no tempo e corrigir cada erro, cada palavra mal colocada, cada atitude impensada! Um homem poderia dizer a frase certa na hora certa, evitar aquele desastre amoroso e finalmente conquistar a mulher dos seus sonhos. Mas, como diria Nelson Rodrigues, “A vida como ela é” não dá essa chance.


Questão de Tempo brinca com essa ideia de maneira brilhante. Tim tem a habilidade que todo homem já desejou: a chance de refazer a própria história. Ele pode testar abordagens, melhorar diálogos e eliminar fracassos. No entanto, o filme, com uma maturidade rara, nos mostra que nem sempre manipular o destino traz felicidade. O que realmente faz o amor dar certo não é a ausência de erros, mas a disposição de lidar com eles.

O Amor Não É Uma Equação Matemática

O grande mérito do filme é entender que, por mais que o protagonista tenha o poder de viajar no tempo, ele não pode controlar a outra pessoa. Mary, a mulher que ele ama, não é um problema a ser resolvido, mas um mistério a ser vivido. Isso é uma lição fundamental, especialmente em tempos de relacionamentos descartáveis.

Em um mundo onde os aplicativos de namoro transformaram o amor em um catálogo de opções, onde basta deslizar o dedo para substituir um parceiro, o filme nos lembra que o verdadeiro relacionamento exige presença, paciência e compromisso. Como dizia Machado de Assis, em Dom Casmurro: “O coração é terra que ninguém vê.”

O amor que dura não é aquele que nasce da perfeição, mas aquele que sobrevive ao erro, ao arrependimento e ao perdão.

O Amor na Era da Sociedade Líquida

O sociólogo Zygmunt Bauman fala sobre a sociedade líquida, onde tudo é passageiro, superficial e facilmente substituível. Relacionamentos se tornaram frágeis porque as pessoas perderam a paciência para construir algo sólido.

Estatísticas alarmantes confirmam essa tendência:

O número de casamentos caiu 30% nos últimos 20 anos.

45% dos casais se divorciam antes dos cinco anos.

A média de tempo de um relacionamento antes de terminar diminuiu 35% em uma década.

Isso não acontece porque as pessoas se amam menos do que antes. Acontece porque elas não sabem mais lidar com o desconforto, com as imperfeições e com o esforço que um relacionamento exige. Elas querem tudo pronto, imediato, sem esforço.

A modernidade criou homens fracos e inseguros, que não sabem mais lutar pelo amor. Como Tim aprende no filme, amar não é só um sentimento, mas uma decisão diária.

O Que “Questão de Tempo” Nos Ensina Sobre o Amor Verdadeiro

1. Não há fórmula mágica. Mesmo com a possibilidade de corrigir erros, Tim percebe que o essencial da vida não pode ser manipulado.

2. Relacionamentos exigem entrega. O amor real nasce quando paramos de tentar controlar tudo e começamos a viver de verdade.

3. A felicidade está nas pequenas coisas. No final, o protagonista aprende que não precisa viajar no tempo para ser feliz – basta viver o presente com plenitude.


Como diria Nelson Rodrigues, “Toda unanimidade é burra.” O amor perfeito, sem brigas, sem desafios, sem esforço, simplesmente não existe. Mas Questão de Tempo nos mostra que, quando aprendemos a lidar com as falhas e a abraçar a imperfeição, podemos construir algo que, embora não seja perfeito, seja verdadeiro.


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