O Amor Não Se Aprende Observando – Uma Crítica à Geração dos Relacionamentos Digitais

 


1. A conversa com um amigo e o cenário comum dos tempos atuais

Estava conversando com um amigo sobre a vida e os desencontros amorosos dos nossos tempos. Ele me relatou que algumas mulheres demonstravam certo interesse por ele, mas apenas à distância — curtindo suas fotos, visualizando seus status, stalkeando suas redes, mas sem tomar nenhuma atitude concreta. Quando ele tentava puxar assunto, muitas vezes a resposta era fria, evasiva, ou simplesmente ignorada. Mas elas continuavam ali, firmes, como aves de rapina: observando. E me perguntei — o que elas acham que vão encontrar só olhando?


2. A ilusão da observação: o amor não acontece por telepatia

Existe uma fantasia moderna de que observar o outro é suficiente para se aproximar ou até criar algum vínculo. Mas o amor exige risco, ação, entrega. Não se constrói uma relação por vigilância digital. Isso é um erro emocional e espiritual. O amor exige prática. Assim como não se aprende confeitaria apenas assistindo vídeos, não se aprende a amar sem viver, errar, tentar.


3. O exemplo do encanador e a sabedoria da prática

Lembrei de um senhor com quem trabalhei no Estaleiro Mauá. Era considerado o melhor encanador naval da empresa e foi chamado pela Transpetro por sua excelência. Nunca frequentou faculdade, nem curso técnico. Tudo que sabia, aprendeu na prática. Seu conhecimento era real porque vinha da experiência. Isso serve para o amor também: quem não se arrisca, nunca saberá o que é amar.


4. Uma crítica cultural: a geração do espectador amoroso

Nelson Rodrigues já dizia: “Toda unanimidade é burra.” Vivemos tempos em que se prefere observar a agir, analisar a sentir, rondar a declarar. A cultura do “stalkeamento” é covarde, fruto de uma sociedade que perdeu a noção do que é iniciativa. já advertia sobre essa geração de homens domesticados, que esperam o momento ideal para tudo e acabam presos na inércia. Falta coragem e fé.


5. Uma visão cristã: agir é próprio da fé verdadeira

São Paulo afirma: “A fé é a certeza das coisas que não se veem.” E São Tomás de Aquino nos lembra que o bem exige vontade. Amar é um ato da vontade, não um reflexo condicionado. Não basta desejar, é preciso mover-se em direção ao outro. A hesitação constante é um sintoma de uma alma adoecida — uma alma que deseja intimidade, mas tem pavor da entrega.


6. A tragédia dos números: a crise do afeto e da natalidade

Segundo dados do IBGE, o número de casamentos caiu 26% na última década no Brasil. A taxa de natalidade também despenca ano após ano. Os jovens estão mais conectados, mas mais solitários. Entre 20 e 35 anos, aumentou drasticamente o número de pessoas que nunca tiveram um relacionamento sério. Estamos formando gerações especialistas em relacionamentos… teóricos. O problema é que o amor não é teoria — é prática.


7. A raiz do problema: medo, vaidade e infantilização

Esse comportamento revela uma sociedade que não amadureceu emocionalmente. Quer tudo fácil, garantido, sem dor e sem exposição. O medo de errar, o culto à imagem e a busca por controle absoluto impedem que os vínculos se formem. É o que Nelson Rodrigues chamaria de “a revolução dos idiotas sensíveis”. Não há virilidade, não há feminilidade madura — há uma covardia disfarçada de prudência.

8. A solução: coragem, fé e entrega real

Precisamos de mais gente disposta a amar com coragem. A chegar de verdade, sem meias palavras. Como dizia Machado de Assis: “O coração é um abismo, e os abismos não se estudam por cima: desce-se.” É na prática, no erro, no perdão e na persistência que se constrói um amor verdadeiro. Aquele que observa sem agir, já perdeu. Já fracassou. Já desistiu.


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