O Poço: Um Alucinado Abismo de Pretensões e Caricaturas
Ah, a Espanha, esse berço de paixões e dramatizações! Enquanto nós, brasileiros, temos que nos contentar com a novela das oito, eles brindam o mundo com produções que fazem o público suspirar e a Netflix festejar. O que temos aqui? "La Casa de Papel", "Elite", "Vis a Vis" e "As Telefonistas". E agora, como se não bastasse, lançam *O Poço*, de Galder Gaztel-Urrutia, que vem com a promessa de ser a obra-prima da estranheza. Contudo, é mais um daqueles jantares em que você se senta, anseia por um banquete, mas acaba com uma amostra de um prato que nunca chega.
Vamos à história: Goreng (Iván Massagué) acorda em uma cela sem grades — bem, isso já deveria acender uma luzinha de alerta. Imagine, você acorda em uma prisão onde o único acesso ao mundo é um buraco em cima e outro embaixo. Aqui, o chef é a própria sociedade, servindo um rodízio de comida que revela a verdadeira essência humana: quem está em cima se empanturrando enquanto os de baixo se contentam com restos. Uma alegoria que brada aos céus, mas que logo se esgota como um discurso de político em época de eleição.
A proposta do filme é clara: um microcosmo que ilustra a estratificação social. Porém, a obviedade da abordagem faz com que você se pergunte se o diretor achou que estava criando algo profundo ou se, na verdade, estava apenas fazendo piadas internas com a realidade. O filme começa a instigar, mas, como tudo na vida, acaba se perdendo em meio a fantasmas que sussurram e um enredo que se arrasta feito tartaruga carregando um peso insuportável.
E assim, os personagens se tornam caricaturas — ah, como eu gostaria de ver um humano ali! Aquele ranzinza que divide a cela com Goreng, ao invés de ser um sábio ancião, parece mais um personagem de um filme de comédia, sempre pronto a explodir em tiradas que tentam, em vão, dar algum peso ao drama. A trama, que poderia ser um banquete de ideias, transforma-se em uma sopa rala, onde a carne se dissolve na água e a única coisa que sobra é o gosto amargo da decepção.
Para tentar embelezar a narrativa, a direção apela para a violência gráfica. Como se isso bastasse para provocar ansiedade! Ah, que piada! É o mesmo que colocar glitter em um carro velho e achar que virou um automóvel de luxo. O protagonista, tentando se tornar um enigma psicológico, se vê cercado de pesadelos e alucinações, e o que conseguimos é um catálogo de obviedades que não nos surpreendem em nada.
E, por fim, chegamos à conclusão — uma tentativa de transcendência que soa mais como uma piada de mau gosto do que um clímax necessário. Sim, a mensagem sobre desigualdade é válida, mas a forma como a trama se perde nesse caminho é digna de um riso nervoso. O filme, que prometia ser um marco da crítica social, acaba por se afundar em suas próprias inconsistências, revelando o que realmente é: um espetáculo de pretensão disfarçada de profundidade.
Em suma, O Poço é a prova de que, muitas vezes, o que brilha não é ouro, mas apenas o reflexo de um abismo de ideias que, ao invés de nos guiar, nos deixa perdidos em um labirinto de caricaturas. A busca por profundidade muitas vezes acaba sendo uma jornada ao fundo do poço.
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