Resenha do documentário da BBC : Humano, demasiado humano – Friedrich Nietzsche
O documentário da BBC de 1999 busca
introduzir a biografia do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, delineando em
seu percurso histórico a evolução do sistema filosófico do mesmo. Sendo que o
ponto culminante que desperta a onda de questionamentos sobre o cristianismo é
a morte de seu pai aos 5 anos, bem como a posterior morte de seu irmão 1 ano mais tarde, criando um ponto de revolta
para com Deus que marcaria sua consciência no caminhar de sua vida. Mesmo sendo
batizado, quase se formando como teólogo, decidiu seguir a formação em línguas
como filósofo clássico e instigar críticas ao campo metafísico, ou melhor, a
teologia cristã. Três são suas provocações : o anúncio da morte filosófica de
Deus; a premissa que o seu trabalho tinha o fim de gerar pensamentos
independentes das tradições religiosas; e a relativização da moral.
Para ele, Deus seria um ponto
ultrapassado, onde o mesmo seria substituído pela figura do super- homem, um
termo que designaria a transcendência do próprio homem, fazendo com que ele
saísse da mediocridade humana e fosse independente/superior, não mais
precisando do metafísico para sustentar-se. Todavia, o que Nietzsche não considerou,
por ignorância ou cegueira ideológica, é que a figura fundadora do Cristianismo
não foi mera abstração, mas o mesmo, Jesus Cristo, não só viveu, como morreu e
ressuscitou, comprovando sua messianidade e, consequentemente, divindade. E
isso está profundamente documentado com registros históricos, defendidos nos
tempos atuais por muitos acadêmicos sérios, como, por exemplo, o filósofo e
teólogo americano Wiliam Lane Craig. Além disso, comprovadamente, vidas foram
transformadas para melhor ao receberem a fé cristã, como também, essa mesma fé
foi essencial para o desenvolvimento e prosperidade da civilização ocidental,
tendo contribuições de escala mundial.
Segundo o filósofo alemão do século XIX,
sua produção filosófica instigava uma espécie de pensamento não alienado, ou
seja, independente das ‘’amarras do cristianismo’’, onde a pessoa poderia
pensar por conta própria. Porém, a teologia cristã, com a escolástica da Idade
Média, propunha tratados dialéticos, onde eram intercalados questionamentos
profundos, tanto de vigor teológico como filosófico, justamente para comprovar
os embasamentos racionais da fé cristã. Ou seja, teólogos sérios
instigaram/instigam o questionamento crítico, onde os dois lados são
confrontados, eliminando uma doutrinação cega e pueril, com é, ironicamente, o
sistema de Nietzsche, que simplesmente quer impor sua cosmovisão ateísta
sem uma arguição séria da mesma. Fundamentando sua crítica num espantalho.
Ademais, ele propõe a aclamada ideia da
relativização moral. O argumento consiste na perspectiva que todos os padrões
morais são meros produtos da construção social, ou seja, implicando que não
existem verdades absolutas. Sendo que cada um é responsável por criar sua
própria moral. Todavia, para sustentar que não existe moral/verdade absoluta,
devo desconsiderar a afirmação absoluta que a moral é relativa, configurando um
paradoxo irracional e sem resposta sã. Como também, sem um padrão absoluto, não
de meras normas, mas de princípios universais, cada um constrói o que é bom ou
mal, sendo que o mesmo não pode ser submetido a juízo sobre seus feitos, por
mais sórdidos que sejam ( estupros, assassinatos e etc ), visto que é sua moral
pessoal e não existe valoração objetiva do que é certo ou errado. Se a
sociedade aceitasse as implicações teóricas e práticas desse pensamento débil,
tudo ruiria aos mais absoluto caos. Que bem que ditadores tem tal mentalidade
em seu âmago, o que sustenta suas atrocidades sem peso na consciência. A moral
absoluta não é uma simplória construção social, mas seus princípios são
inerentes a cada ser humano em sua potencialidade, por mais que muitas vezes
falhem em manifestar os mesmos.
Por fim, depois de sustentar e reafirmar
sua filosofia desconstrutivista da moral e tradição judaico-cristã, o mesmo
acabou isolado, doente física e mentalmente. Viveu seus últimos dias no
sanatório, vindo a falecer de infecção pulmonar. No fundo, seus pensamentos não
foram reflexivos, mas uma prisão mental, fechada sobre a possibilidade do
sobrenatural, confinada no transitório e mortal. A crença na moral relativa
mostra uma fragilidade intelectual absurda, pois desconsiderar princípios
universalmente válidos é perder de foco
a existência de um norteador comportamental concreto, encrustado na
própria natureza humana, o que gera apreensões alienadas da realidade prática.
Implicando numa mente vazia de propósito, esvaziando o sentido de boas ações,
relativizando o que é danoso e abrindo espaço para a lobotomização de mentes no
meio acadêmico ao repetirem sem raciocínio crítico as postulações de Nietzsche.
O gênesis da filosofia de Nietzsche foi uma revolta míope
contra Deus, o que corrompeu seu pensar filosófico e incapacitou o mesmo para
confrontar suas próprias ideias com a honestidade dialética que era registrada
nos tratados do medievo cristão, os quais
o mesmo menosprezou.
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