Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2025

O Brasil Prisão por Prisão Continua Burro: A Tragédia Intelectual de um País que Não Aprende Nunca

Imagem
  A prisão de um ex-presidente não é sinal de evolução política é apenas mais uma prova da nossa miséria intelectual. Um país que repete os mesmos erros há 200 anos não tem o direito de fingir surpresa. Somos uma nação que troca de herói como quem troca de figurinha, mas mantém intacta a burrice coletiva que sustenta nossos fracassos. E o mais triste: enquanto os fatos se acumulam, as ideias seguem enterradas. O brasileiro não quer compreender nada, não quer estudar nada, não quer pensar nada. Quer um ídolo. Quer um inimigo. Quer uma narrativa pronta. Quer um culpado para xingar no almoço de domingo. Bolsonaro? Lula? Collor? Jânio? Getúlio? Todos são atores. O enredo ruim somos nós. Elevamos homens ao céu por bravata, meme e fanatismo. Depois os derrubamos com a mesma ferocidade histérica. Chamamos isso de política. Na verdade, é só imaturidade. É só ignorância. É só emocionalismo barato travestido de consciência cívica. A prisão do ex-capitão não revela quem venceu ou perdeu revel...

O Delírio Coletivo das Mães que Nunca Foram Mães

Imagem
Há anos eu escuto a mesma ladainha feminina, sempre dita com um terror quase religioso: “Tenho medo de gravidez, de sentir dor, de aturar criança, de grupo de WhatsApp da escola.” E eu fico pasmo. Não por discordar, mas porque percebo que estas mulheres não têm medo de um bebê. Não. Elas têm medo de um fantasma. Sim, um fantasma. Uma maternidade imaginária, fabricada com todos os requintes melodramáticos de uma radionovela barata: o choro incessante, a dor de parto, a responsabilidade absoluta, o marido inútil, o boletim do colégio, as mães competitivas… e tudo isso sem nunca ter acontecido de verdade. É uma gravidez que jamais existiu mas que, de tão descrita, tão comentada, tão repetida, adquire consistência psicológica. É o bebê da Disney: cor-de-rosa, problemático, ingrato e absolutamente irreal. E então, o que acontece? Depois de passar anos parindo esse filho imaginário, a mulher o rejeita com a mesma violência com que o inventou. E trata essa recusa como se fosse um fato concret...

O Império Caído: Crônica de um Rio que Sangra

Imagem
Ontem, o Rio de Janeiro parou. Não foi feriado, não foi carnaval, nem promessa de eleição. Foi o caos. Uma operação do BOPE transformou o Complexo da Maré num campo de guerra. Os bandidos do Comando Vermelho mandaram fechar a Avenida Brasil, a Linha Vermelha e até o que restava da paciência do povo. Foi uma terça-feira de pólvora e desespero, em que o relógio perdeu a noção do tempo e o asfalto virou trincheira. No rádio, o locutor falava em “intervenção”, mas o que se ouvia, de fato, era o som seco dos tiros  a trilha sonora do fracasso nacional. As pessoas saíram mais cedo para o trabalho, como quem foge de uma maldição, e acabaram presas no engarrafamento da própria rotina. Um trânsito sem princípio, meio ou fim  o engarrafamento metafísico da alma carioca. Um povo discutia nos pontos de ônibus, nas esquinas, nos aplicativos: — “A culpa é do governo!” — “Não, é da polícia!” — “É dos bandidos!” Mas ninguém dizia a verdade mais simples e terrível: a culpa é de todos nós. O Ri...

A Velhinha, a Poça e a Graça Perdida – Crônica de um Milagre Miúdo

Imagem
Ontem, o Rio de Janeiro não teve manchete, mas teve um milagre. Eu saí cedo um desses dias raros em que o trabalho termina antes do sol morrer. Quando o efetivo é pequeno, o mundo parece mais leve. Eu vim embora satisfeito: cortaria o cabelo, ajeitaria a aparência, talvez enganasse a tristeza com um penteado novo. Foi então, na travessia da passarela, que a tragédia doce da vida brasileira se apresentou: uma velhinha, pequena como uma lembrança, lutava com uma sacola quase maior que ela. A voz era um fio de renda frágil, mas de uma doçura que só o tempo concede. Perguntei se precisava de ajuda. Ela respondeu:  Sim, graças a Deus. Há séculos não se ouvia essa gratidão. A maioria hoje responde com desconfiança, medo, ou ironia. Ela não agradeceu a Deus e à Virgem Maria como quem agradece ao próprio milagre de ainda existir bondade. Peguei a sacola. Para mim, era leve. Para ela, era o peso do mundo. Enquanto caminhávamos, ela me confidenciou: “Quando chove, eu me molho toda.” E, como ...