O Delírio Coletivo das Mães que Nunca Foram Mães
Há anos eu escuto a mesma ladainha feminina, sempre dita com um terror quase religioso: “Tenho medo de gravidez, de sentir dor, de aturar criança, de grupo de WhatsApp da escola.” E eu fico pasmo. Não por discordar, mas porque percebo que estas mulheres não têm medo de um bebê. Não. Elas têm medo de um fantasma.
Sim, um fantasma.
Uma maternidade imaginária, fabricada com todos os requintes melodramáticos de uma radionovela barata: o choro incessante, a dor de parto, a responsabilidade absoluta, o marido inútil, o boletim do colégio, as mães competitivas… e tudo isso sem nunca ter acontecido de verdade.
É uma gravidez que jamais existiu mas que, de tão descrita, tão comentada, tão repetida, adquire consistência psicológica. É o bebê da Disney: cor-de-rosa, problemático, ingrato e absolutamente irreal.
E então, o que acontece?
Depois de passar anos parindo esse filho imaginário, a mulher o rejeita com a mesma violência com que o inventou. E trata essa recusa como se fosse um fato concreto, real, biográfico quando, na verdade, ela está dizendo “não” a algo que jamais lhe foi oferecido.
O mais trágico é quando essa fantasia encontra outras fantasias outras mulheres que compartilham a mesma gravidez inexistente. Aí forma-se uma irmandade, um delírio coletivo, um coro grego de medo e recusa. Todos temem a maternidade que nunca tiveram.
Mas a maternidade verdadeira ah, essa não é uma escolha de supermercado. Não é pegar a margarina mais barata. Um filho depende de fertilidade, saúde física, saúde mental, do encontro improvável com um marido que seja bom marido e bom pai. E bons pais, meus amigos, não se encontram na prateleira do mercado e muito menos no algoritmo do Instagram.
Enquanto isso, as mulheres esperam.
Esperam um homem melhor.
Esperam um futuro mais generoso.
Esperam garantias que o mundo não dá.
E, num gesto tragicômico, recusam a maternidade como se fosse privilégio disponível, quando, muitas vezes, nunca foi como diz aquela filósofa genial do canal Olabocos:
“Eu não quero ser mãe.”
“Mas quem disse que você pode?”
E aí está o drama moderno:
as mulheres fogem daquilo que não existe, rejeitam o que nunca tinham e sofrem por um futuro que nunca lhes foi prometido.
É a grande tragédia: o filho imaginário dói mais que o real.

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