Resenha: Dom Casmurro a Obra de Machado de Assis
Dom Casmurro é um clássico da nossa literatura.
É uma obra imortal, do imortal Machado de Assis. Deve ser, de longe, um dos livros brasileiros mais lidos e traduzidos ao redor do mundo.
Não é a toa, a história tem os diversos elementos que marcam uma grande obra-prima, como personagens envolventes, contextualização profunda, linha coesa de acontecimentos, e talvez o principal elemento, discute um assunto atemporal, que não possui uma data de vencimento.
A história de amor, ou de falta de amor, monopolizada na visão de um personagem excêntrico traz a tona diversos sentimentos que mesmo após um século ter se passado, ainda permanece atual. Além do mais, em Dom Casmurro, Machado de Assis faz um recorte que vale a pena para todo leitor. Ao refletir sobre a vida simples de criança e sua idealização de mundo. Ao se confrontar com problemas e dúvidas na adolescência. E, sobretudo, trazer o rancor e a angústia de um personagem ao alcançar a idade adulta.
O imortal escritor brasileiro traça aspectos que, embora centrados em um único personagem, de certo modo, são encarnados em pessoas comuns, do dia a dia. Talvez, em algum momento ou outro, vejamos as reflexões de Dom Casmurro como sendo coisas que vivenciamos ou pensámos. Ou ainda, nós reconhecemos nas ações impensadas e inesperadas de Capitu. Ao contrário do que possa parecer, a história narrada é de uma tragédia imensa, e não uma prova de amor. O luto vivenciado e a falta de empatia são marcas muito fortes do principal personagem da história. Ao encarar essas reflexões, pensamentos e angústia, o livro se torna rapidamente uma longa história de desamor.
No entanto, este final catastrófico acontece somente na parte de encerramento da história, sendo que o restante é centrado nas formalidades de uma vida sem considerar o aspecto fúnebre de mortes, traições e isolamento social. De certo modo, ao terminar a leitura de Dom Casmurro todos nós temos um julgamento interno, se Capitu traiu ou não. O impacto causado pelas lembranças de Dom Casmurro deixa qualquer leitor desavisado pensativo sobre o assunto. Talvez, a resposta possa flutuar conforme nosso momento temporal. Conheço pessoas, por exemplo, que ao lerem o livro mais de uma vez tiveram conclusões distintas. Ao fim, ninguém poderá afirmar o que aconteceu, todos nós somos expectadores da vida de Bento e Capitu
E Capitu, traiu ou não traiu?
Li o livro 2 vezes, e nas duas leituras obtive a mesma conclusão: Capitu não traiu o marido.
Acredito que Bentinho era um personagem extremamente tímido que distorcia os fatos devido a personalidade assimétrica de seu par romântico. Ao mesmo tempo que para ele, por exemplo, era difícil falar de seus sentimentos a alguém e criar laços sólidos.
Tanto que na história, encontramos apenas a figura de Escobar como amigo que foi “conquistado”, todos os outros personagens eram — de algum modo — próximos a ele. Capitu não tinha problemas em ser honesta e fazer novas amizades. Por isso mesmo, os risos e sinais que Dom Casmurro notava como sendo elementos que comprovam a traição, seriam na verdade, traços da personalidade da própria Capitu. Não encontrei durante minhas leituras nenhum argumento sólido e consistente que apresentasse a visão de Bentinho sobre a traição.
Mas, essa é a minha perspectiva da história, e você, o que acha disso?
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