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Mostrando postagens de dezembro, 2024

Lendas da Paixão : A Tragédia das Paixões Humanas

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  Se eu, Nelson Rodrigues, tivesse que escrever sobre *Lendas da Paixão*, diria que este filme é mais do que uma história de amor e perda. É um drama sobre os abismos da alma humana. Ali estão três irmãos, três homens, cada um simbolizando uma face do masculino: o honrado, o rebelde e o contido. E todos, sem exceção, tragados pela mesma mulher. É um destino shakespeariano, com tintas de pecado e redenção. O primeiro irmão, Alfred, é o homem que vive pela razão. Ele quer o que é certo, o que é aprovado, o que se encaixa nos moldes. Alfred é o típico sujeito que pensa que a vida se resolve com bons costumes e escolhas seguras. Mas a tragédia de Alfred é justamente esta: ele tenta organizar a paixão, controlar o incontrolável. E, no final, o que sobra para ele é a sombra do que nunca foi vivido plenamente.   Tristan, o segundo, é um personagem rodriguiano em sua essência. Ele é puro instinto, carne e desejo. Tristan é o homem que não apenas vive, mas devora a vida. Ele carrega a ...

O Fracasso de Não Tentar: A Tragédia Silenciosa

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Na encruzilhada de tantos dramas, onde a vida se desenrola num palco abarrotado de covardias, vejo o homem moderno. Esse indivíduo, que chamarei de “covarde metafísico”, não é um mero hesitante ou tímido, mas alguém que escolheu a rendição como religião. Ele rasteja diante do vestibular, recua diante da garota que sorri no corredor da faculdade, e desiste antes mesmo de começar.   Esse homem é o produto de sua própria deserção. Quando jovem, sonhava alto, mas trocou seus castelos por barracos emocionais. Dizia: "Tentarei!" Mas, ao primeiro vento contrário, decidiu que não era mais ele quem iria ao fogo. Essa desistência tem um rosto: o do sujeito que, de tanto evitar os riscos, tornou-se um arquiteto do nada.   Imaginem um eito, um templo humano, onde cada pedra viva somos nós, pessoas habitadas por Deus. Esse templo deveria ser inabalável, mas cada tijolo, ao invés de suportar o peso da vida, treme ao menor sinal de desafio. O homem moderno, que poderia ser casa de Deus, pre...

O Balde de Caranguejos e a Tragédia da Sabotagem Carioca

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  No Rio de Janeiro, a sabotagem é uma arte tão refinada quanto o samba. Entre a morna luz do sol e o cheiro do asfalto, os cariocas se envolvem numa dança cruel de puxões e tropeços, como caranguejos num balde, cada um garantindo que ninguém escale até a borda. Eis aqui a grande metáfora da cidade que não dorme, mas cochila em seus próprios erros.   O balde de caranguejos é uma imagem tão carioca quanto a Lapa ou o Cristo Redentor. Cada caranguejo que tenta se erguer é imediatamente puxado pelos colegas, não por maldade, mas por instinto. E assim, todos permanecem presos, condenados à mediocridade do fundo do balde. No Rio, esse balde é a alma coletiva. Aquele que ousa sonhar — que quer um emprego melhor, uma educação decente, ou até mesmo criar uma startup num morro da Zona Norte — é visto com olhos de suspeita. Não é raro ouvir o clássico: “Quem ele pensa que é?”.   No carnaval da sabotagem, há ritmistas de todos os tipos. O vizinho que denuncia a obra porque você cons...

Band of Brothers: Amizade à Prova de Fogo

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Sinopse de Irmãos de Guerra   A minissérie Irmãos de Guerra (Band of Brothers), baseada no livro de Stephen E. Ambrose, segue a jornada da Companhia Easy, um grupo de soldados norte-americanos da 101ª Divisão Aerotransportada, desde seu treinamento árduo na Segunda Guerra Mundial até os campos de batalha na Europa. Da invasão da Normandia ao cerco de Bastogne, os soldados enfrentam não apenas os horrores da guerra, mas também os desafios das relações humanas. Entre bombas, tiros e perdas, nasce um vínculo inquebrável de camaradagem, marcado por lealdade, sacrifício e, acima de tudo, amizade verdadeira. Irmãos de Guerra não é apenas uma minissérie; é um manifesto cruel e necessário sobre a amizade, ou o que resta dela nos tempos de hoje. Enquanto vivemos na era dos "amigos virtuais", onde uma curtida vale mais que um abraço, esta obra nos joga de volta ao chão — um chão lamacento, coberto de sangue e pólvora, onde a amizade não é um capricho, mas uma questão de vida ou morte. ...

O Diabo é Advogado ou Advogado é o Diabo?

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Sinopse: Kevin Lomax (Keanu Reeves) é um jovem e ambicioso advogado com um histórico impecável de vitórias no tribunal. Após defender um caso moralmente duvidoso, ele é recrutado pela poderosa firma de advocacia liderada por John Milton (Al Pacino), em Nova York. À medida que Lomax mergulha no glamour e no poder que o novo emprego oferece, sua vida pessoal começa a desmoronar, e ele descobre que seu chefe é mais do que aparenta – Milton é, literalmente, o próprio Diabo. O filme explora as escolhas entre moralidade e ambição, revelando o preço da corrupção da alma. Crítica: Se há uma metáfora mais óbvia do que o Diabo como chefe de uma firma de advocacia, eu desconheço. *O Advogado do Diabo* é um filme que transpira sensualidade e pecado com a mesma naturalidade com que um político distribui promessas em época de eleição. Mas, apesar do tom carregado e da performance magnética de Al Pacino, que faz do Diabo não apenas um charmoso cafajeste, mas um filósofo da devassidão, o filme peca pe...

A Angústia do Amanhã: Reflexões Sobre a Ansiedade Nacional

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No Brasil, a ansiedade não é apenas um mal psíquico; é uma instituição. O brasileiro, esse eterno herói de tragédias cotidianas, vive como se carregasse nos ombros não apenas o peso de sua própria existência, mas também o de todos os problemas do mundo. Não se contenta em sofrer hoje; sofre pelo que pode acontecer amanhã.   Pelas ruas, há algo de teatral em cada rosto aflito. É como se cada indivíduo carregasse o ensaio de uma peça tragicômica: o desemprego, o trânsito, a inflação — tudo contribui para a narrativa de uma vida que nunca parece alcançar o clímax feliz. O brasileiro, paradoxalmente, é um otimista desesperado. Acredita no "vai dar certo", mas não dorme esperando pelo "e se não der?".   O brasileiro tem uma ansiedade pornográfica. Ele se despe de sua tranquilidade sem pudor algum. Liga a televisão para assistir a catástrofes e desastres como quem assiste a um espetáculo. É como se o caos fosse seu pão diário. A ansiedade aqui não é sintoma; é identidade....

O Brasileiro e Sua Literatura de Papelão

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  O brasileiro não é avesso à leitura, como gostam de dizer os doutores das estatísticas. Ao contrário, lê-se muito neste país. O problema não é a quantidade, mas a qualidade. O brasileiro lê, sim, mas o que lê é uma torrente de inutilidades, uma literatura de papelão, que desmancha ao menor contato com a chuva das ideias.   Nas praças, nos ônibus, até nas filas intermináveis, lá está o cidadão de olhos grudados no celular, lendo manchetes sensacionalistas, fofocas de celebridades e as últimas teorias conspiratórias. O brasileiro lê mensagens de WhatsApp com a mesma devoção com que nossos antepassados liam os evangelhos. Ele consome frases feitas, memes com erros de português e crônicas do acaso, escritas por influenciadores cujo único talento é o de parecer sábio aos incautos.   É preciso dizer: o brasileiro ama a leitura que o emburrece. Porque o texto verdadeiro, aquele que faz pensar, exige esforço — e pensar, no Brasil, é um luxo tão raro quanto uma nota de cinquenta...

A Virgem Maria na Netflix: Entre o Céu e o Algoritmo

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Sinopse:  No controverso filme Virgem Maria (2024), a Netflix traz uma releitura moderna da vida de Maria, mãe de Jesus. Ambientado em uma grande metrópole contemporânea, Maria é retratada como uma jovem imigrante em busca de propósito, enfrentando injustiças sociais e dilemas pessoais. O filme oscila entre o sacro e o profano, questionando a espiritualidade no mundo moderno enquanto Maria, grávida de forma inexplicável, é confrontada por autoridades, ativistas e líderes religiosos. A obra promete um retrato humanizado, mas polarizou a audiência com sua abordagem ousada. Crítica: Assistir a Virgem Maria é como testemunhar um desfile de paradoxos: ao mesmo tempo em que tenta humanizar uma das figuras mais sagradas da história, o filme flerta com a banalidade do nosso tempo. A Maria da Netflix não é apenas a mãe de Jesus; ela é a mãe da dúvida, da angústia e da ironia moderna. A pergunta que o filme insinua — e se Maria vivesse hoje?— é respondida com uma visão ao mesmo tempo provoca...

Forrest Gump: O Contador de Histórias ou o Grande Palhaço da Vida?

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  Era uma vez um homem simples, com um cérebro de passarinho e uma sorte que poderia ser considerada, no mínimo, uma piada de mau gosto. Forrest Gump, esse herói inusitado, cruzou décadas de história americana como se fosse um espectador passivo, assistindo a grandes eventos acontecerem e, ao mesmo tempo, influenciando-os de maneira quase sobrenatural, mas sem nunca entender direito o que estava fazendo.  E não se enganem, caros leitores, o filme Forrest Gump não é a comédia inofensiva que muitos imaginam. Não, não. Aliás, a ironia está no fato de que Forrest Gump é o maior conto de desilusão do cinema. Em um mundo onde as narrativas são controladas, onde o palco da vida é dominado por grandes pensadores e heróis convencionais, um simples homem com um par de tênis brancos e uma inteligência limitada toma as rédeas da história. Como? Por pura sorte. E, se formos dar um passo atrás e analisar, o que é sorte, afinal? Um jogo de futebol jogado por um desavisado, uma corrida inespe...