O Brasileiro e Sua Literatura de Papelão

 

O brasileiro não é avesso à leitura, como gostam de dizer os doutores das estatísticas. Ao contrário, lê-se muito neste país. O problema não é a quantidade, mas a qualidade. O brasileiro lê, sim, mas o que lê é uma torrente de inutilidades, uma literatura de papelão, que desmancha ao menor contato com a chuva das ideias.  

Nas praças, nos ônibus, até nas filas intermináveis, lá está o cidadão de olhos grudados no celular, lendo manchetes sensacionalistas, fofocas de celebridades e as últimas teorias conspiratórias. O brasileiro lê mensagens de WhatsApp com a mesma devoção com que nossos antepassados liam os evangelhos. Ele consome frases feitas, memes com erros de português e crônicas do acaso, escritas por influenciadores cujo único talento é o de parecer sábio aos incautos.  

É preciso dizer: o brasileiro ama a leitura que o emburrece. Porque o texto verdadeiro, aquele que faz pensar, exige esforço — e pensar, no Brasil, é um luxo tão raro quanto uma nota de cinquenta reais esquecida no bolso. O brasileiro quer o prazer rápido, o texto que confirma suas crenças, nunca o que as desafia.  

Em um país de Machado de Assis e Guimarães Rosa, é uma tragédia que a maioria prefira romances de banca e best-sellers pré-fabricados. O brasileiro gosta daquilo que lhe é fácil, da leitura que se digere como fast food. Ele não quer o livro que questiona a alma, mas o que anestesia o espírito.  

E aqui, devo ser justo: esse gosto não é culpa do brasileiro, mas de sua formação. Um país que nunca ensinou seu povo a pensar também não podia esperar que ele lesse o que vale a pena. A leitura, para muitos, é uma forma de matar o tempo, não de alimentar o espírito.  

O problema, meus amigos, não é que o brasileiro não leia. O problema é que ele lê demais — mas lê bobagem. E, como todo vício, isso tem consequências. A cada frase feita consumida, a alma do brasileiro fica um pouco mais leve, mais superficial, mais vazia.  

Mas há esperança. Ainda existem aqueles que leem o que importa, que se aventuram pelos clássicos, que preferem um parágrafo de Machado a mil posts de Instagram. São poucos, é verdade, mas existem. E, enquanto eles existirem, há uma chance de que este país volte a se lembrar de que ler não é apenas passar os olhos pelas palavras, mas mergulhar na profundidade delas.  

No fim das contas, o brasileiro gosta de ler, sim. Mas gosta de ler o que o faz rir, não o que o faz pensar. E essa, meus amigos, é a nossa maior tragédia.

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