O Balde de Caranguejos e a Tragédia da Sabotagem Carioca
No Rio de Janeiro, a sabotagem é uma arte tão refinada quanto o samba. Entre a morna luz do sol e o cheiro do asfalto, os cariocas se envolvem numa dança cruel de puxões e tropeços, como caranguejos num balde, cada um garantindo que ninguém escale até a borda. Eis aqui a grande metáfora da cidade que não dorme, mas cochila em seus próprios erros.
O balde de caranguejos é uma imagem tão carioca quanto a Lapa ou o Cristo Redentor. Cada caranguejo que tenta se erguer é imediatamente puxado pelos colegas, não por maldade, mas por instinto. E assim, todos permanecem presos, condenados à mediocridade do fundo do balde. No Rio, esse balde é a alma coletiva. Aquele que ousa sonhar — que quer um emprego melhor, uma educação decente, ou até mesmo criar uma startup num morro da Zona Norte — é visto com olhos de suspeita. Não é raro ouvir o clássico: “Quem ele pensa que é?”.
No carnaval da sabotagem, há ritmistas de todos os tipos. O vizinho que denuncia a obra porque você conseguiu reformar a casa. O colega de trabalho que, ao ver sua promoção, espalha rumores como confetes. O político que destroça projetos de outro apenas para manter seu domínio no morro escorregadio do poder. A sabotagem no Rio não é um acidente — é uma tradição.
A origem da tragédia
Por que somos assim? Talvez porque crescemos num caldo de desigualdades tão extremas que aprendemos a olhar o sucesso alheio como uma ameaça. Talvez porque o Brasil como um todo ainda não entendeu que o progresso de um pode beneficiar todos. Ou talvez porque, em algum lugar da nossa história, acreditamos na mentira de que só há espaço para um vencedor, uma estrela, um sambista na avenida da vida.
Mas o verdadeiro inimigo não é o outro caranguejo; é o balde. A estrutura que nos aprisiona, que nos faz competir de maneira cega. O sistema educacional que não ensina a colaborar. O mercado de trabalho que premia a ganância. O ambiente político que transforma a ascensão do próximo em queda para todos. E, no meio disso, o carioca não se dá conta de que, ao puxar o outro para baixo, permanece atolado no mesmo lodo.
O antídoto cristão
Para sair do balde, é preciso mais que força bruta. É preciso conversão, no sentido mais literal da palavra. Converter o olhar: enxergar o outro como parceiro, não como rival. São Paulo, em sua carta aos Gálatas, nos exorta a “carregar os fardos uns dos outros”. Mas aqui estamos, transformando o fardo em corrente.
São José, carpinteiro e silencioso, poderia ser o patrono do antídoto contra a sabotagem. Ele não construiu para si, mas para os outros. Sua glória não estava em ser o primeiro, mas em sustentar a Sagrada Família com humildade. É essa mentalidade de colaboração, de serviço ao próximo, que o Rio precisa urgentemente aprender.
O balde pode ser virado. Mas, para isso, é necessário um gesto revolucionário: ajudar o próximo a subir, mesmo que você ainda esteja no fundo. Porque, no fim das contas, o balde é apenas um truque. Se todos os caranguejos se apoiarem, sairão juntos. Talvez até descubram que, fora do balde, há um mar de possibilidades — uma cidade, um país, um mundo em que o sucesso de um é a vitória de todos.
Por ora, continuamos no balde, mas o tempo da mudança virá. E quando ele chegar, talvez o Rio deixe de ser apenas um cartão-postal e se torne aquilo que sempre prometeu ser: um lugar onde o samba, finalmente, possa ecoar em harmonia.

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