A Angústia do Amanhã: Reflexões Sobre a Ansiedade Nacional
No Brasil, a ansiedade não é apenas um mal psíquico; é uma instituição. O brasileiro, esse eterno herói de tragédias cotidianas, vive como se carregasse nos ombros não apenas o peso de sua própria existência, mas também o de todos os problemas do mundo. Não se contenta em sofrer hoje; sofre pelo que pode acontecer amanhã.
Pelas ruas, há algo de teatral em cada rosto aflito. É como se cada indivíduo carregasse o ensaio de uma peça tragicômica: o desemprego, o trânsito, a inflação — tudo contribui para a narrativa de uma vida que nunca parece alcançar o clímax feliz. O brasileiro, paradoxalmente, é um otimista desesperado. Acredita no "vai dar certo", mas não dorme esperando pelo "e se não der?".
O brasileiro tem uma ansiedade pornográfica. Ele se despe de sua tranquilidade sem pudor algum. Liga a televisão para assistir a catástrofes e desastres como quem assiste a um espetáculo. É como se o caos fosse seu pão diário. A ansiedade aqui não é sintoma; é identidade. É a antecipação do desastre — um desastre que nem sempre chega, mas que ocupa todos os seus pensamentos.
O homem moderno — e particularmente o brasileiro — vive com medo do amanhã. O boleto, o crush que não responde, a economia que não cresce. Há um gozo masoquista em antecipar a ruína. Cada coração, ao bater, parece sussurrar: "E se?".
Se a ansiedade fosse uma personagem, seria um Bentinho dividido entre o passado e o futuro, jamais vivendo o presente. Observemos o homem brasileiro: ele teme tanto perder o emprego que esquece de trabalhar. Preocupa-se tanto com o amor não correspondido que negligencia o amor que lhe é oferecido. Vive mais nas sombras do futuro do que sob a luz do presente.
A ansiedade é, no fundo, uma espécie de vaidade às avessas. O ansioso se julga tão indispensável que acredita que o destino depende exclusivamente dele. Ele não apenas sofre pelo que não aconteceu, mas também se martiriza por aquilo que nunca irá acontecer.
Conclusão
Entre a ironia machadiana e o desespero teatral rodriguiano, resta-nos uma verdade inescapável: a ansiedade é um reflexo da alma nacional, que luta para conciliar a esperança com o desespero. O brasileiro não quer apenas sobreviver; ele quer, ao mesmo tempo, conquistar o futuro e temer por ele. É um paradoxo, é um drama — e é, sobretudo, um pouco cômico. Afinal, quem mais além de nós transforma até a própria aflição em motivo de riso?

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