O Diabo é Advogado ou Advogado é o Diabo?
Sinopse:
Kevin Lomax (Keanu Reeves) é um jovem e ambicioso advogado com um histórico impecável de vitórias no tribunal. Após defender um caso moralmente duvidoso, ele é recrutado pela poderosa firma de advocacia liderada por John Milton (Al Pacino), em Nova York. À medida que Lomax mergulha no glamour e no poder que o novo emprego oferece, sua vida pessoal começa a desmoronar, e ele descobre que seu chefe é mais do que aparenta – Milton é, literalmente, o próprio Diabo. O filme explora as escolhas entre moralidade e ambição, revelando o preço da corrupção da alma.
Crítica:
Se há uma metáfora mais óbvia do que o Diabo como chefe de uma firma de advocacia, eu desconheço. *O Advogado do Diabo* é um filme que transpira sensualidade e pecado com a mesma naturalidade com que um político distribui promessas em época de eleição. Mas, apesar do tom carregado e da performance magnética de Al Pacino, que faz do Diabo não apenas um charmoso cafajeste, mas um filósofo da devassidão, o filme peca pela superficialidade de sua mensagem moral.
Kevin Lomax é o retrato perfeito do brasileiro comum – não porque seja advogado, mas porque se acha esperto demais para cair nas armadilhas do mundo. Ele acredita controlar as situações, mesmo quando está mergulhado em vícios e vaidades. Ah, como Nelson Rodrigues já dizia: "Toda ingenuidade é uma forma de presunção." Lomax pensa que é imune à corrupção, que pode jogar com o Diabo e sair ileso. Ora, é a velha história da mosca que se apaixona pelo brilho da lâmpada.
O diretor Taylor Hackford nos brinda com imagens opulentas, cenas que desfilam entre o grotesco e o sublime. E é aí que a obra se aproxima perigosamente da realidade brasileira: todos nós, espectadores, reconhecemos um pouco de nós mesmos no dilema de Lomax. O filme não fala sobre um advogado específico; fala sobre o sujeito que quer ganhar sempre, que vende a alma aos poucos, acreditando que, no final, ainda poderá negociar com Deus.
A figura de Al Pacino como o Diabo é uma delícia à parte. Ele não grita, ele seduz; ele não ameaça, ele persuade. E sua filosofia é clara: o pecado não é imposto, é uma escolha. E como escolhemos mal! A interpretação final, em que Milton se revela como o manipulador por excelência, é um lembrete incômodo de que, talvez, o Diabo não precise nos corromper – nós nos corrompemos sozinhos.
Por fim, O Advogado do Diabo é mais do que um filme; é um espelho. E o reflexo que ele oferece não é bonito. O brasileiro – e o humano em geral – sempre escolhe o atalho, o prazer imediato, a vaidade sem freios. E, como Kevin Lomax, só percebemos o preço a pagar quando já é tarde demais.
Conclusão:
Se a vaidade é, como o filme sugere, o pecado favorito do Diabo, então estamos todos em maus lençóis. Mas talvez isso seja o charme do jogo: achar que podemos vencer o inevitável. Afinal, quem não gosta de uma boa tragédia?

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