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Mostrando postagens de 2025

Casamento às Cegas e o Medo de Dizer “Sim”

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  Guilherme, na terceira temporada de Casamento às Cegas , é esse tipo de homem. Não o vilão clássico, não o cafajeste óbvio, mas algo talvez mais perigoso: o homem que se esconde atrás da palavra razão para não se comprometer com nada. Desde o início, ele se apresenta como racional. E repete isso como um mantra, quase como um álibi moral: “eu sou racional”, “eu não sei”, “vamos ver”. O problema é que ninguém entra num programa que termina em altar para ver . Entra-se para decidir. Maira, por outro lado, entra como quem sabe o que quer. Mulher, mãe, marcada pela vida. Não busca perfeição, busca verdade. Ela não pede promessas eternas, pede apenas um sinal humano: presença, resposta, entrega. Algo que diga: estou aqui . O drama não nasce do conflito entre eles, mas do desencontro. Maira vive no tempo do agora. Guilherme vive num eterno rascunho. Ele chama tudo de “experimento”, como se o amor fosse um laboratório e não um risco. Como se fosse possível amar sem perder o chão. Há uma...

Prudência ou Medo? A Covardia Disfarçada de Virtude

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  Há uma virtude antiga chamada prudência. Ela nasceu para orientar o homem, não para algemá-lo. Prudência é a bússola; medo é o freio de mão puxado em plena estrada. O problema do nosso tempo é que passamos a chamar medo de virtude e ainda nos orgulhamos disso. Nunca se falou tanto em razão nos relacionamentos. Tudo é analisado, pesado, comparado, testado. Ama-se como quem avalia um investimento de risco. Pergunta-se sobre o futuro antes mesmo de se viver o presente. Exige-se garantia emocional como quem pede nota fiscal de um sentimento. O homem moderno, sobretudo, descobriu uma palavra confortável para esconder sua covardia: prudência. Diz que é prudente porque não se entrega. Diz que é racional porque não decide. Diz que está sendo maduro quando, na verdade, está apenas parado. Confunde razão com paralisia. A razão verdadeira ilumina o caminho; a falsa razão apenas aponta todos os perigos até que ninguém tenha coragem de dar o primeiro passo. É a razão que não conduz à ação, ap...

O Inferno Não Veio do Céu, Veio da Inteligência que Nós Adoramos

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  Era domingo, 21 de dezembro de 2025. A madrugada me encontrou acordado ou talvez eu tenha sido encontrado por ela. Não conseguia dormir. O silêncio tinha peso, desses que apertam o peito e obrigam a mente a procurar qualquer ruído para não ouvir a si mesma. Abri o YouTube, esse confessionário moderno onde ninguém se arrepende de nada, e comecei a fuçar sem propósito. Caí em um vídeo sobre as maiores maquiagens da cultura pop. Algo leve, quase banal. Até que surgiu uma imagem que me desconcertou: AM. Um nome curto, seco, sem afeto. Não parecia maquiagem. Parecia aviso. A curiosidade esse vício respeitável me fez sair do vídeo. Pesquisei. Encontrei o conto. Li. E como acontece com toda leitura verdadeiramente perigosa, não saí ileso. Não encontrei entretenimento. Encontrei um espelho. Sempre ouvi protestantes dizendo que católicos são idólatras porque têm imagens: da mãe de Jesus, dos santos, da cruz. Confesso que, quando eu era ateu, essa crítica sempre me pareceu rasa. Um raciocí...

Casamento às Cegas: Quando o Amor Fecha os Olhos, mas a Coragem Pisca

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  Eu estou na casa da minha irmã e estava pisando descalço no tapete da sala, olharia para a televisão ligada na Netflix e decretaria, sem piedade ajeitando o chapéu e acendendo um cachimbo imaginário, dizendo:  “Isto não é um reality show. É um confessionário sem padre.” “O curioso não é que as pessoas se apaixonem no escuro, mas que continuem cegas quando a luz se acende.” E eis Casamento às Cegas, esse espetáculo moderno onde homens e mulheres prometem o eterno separados por uma parede como se o amor fosse um telefonema bem-feito e não uma cruz carregada a dois. A Premissa: o amor sem corpo O programa parte de uma tese quase teológica: o amor verdadeiro nasce da alma, não dos olhos. Até aqui, belíssimo. Santo Agostinho assinaria embaixo. O problema é o segundo ato, quando o corpo aparece e com ele surgem as dúvidas, os silêncios constrangedores e o velho pavor brasileiro de compromisso. Ali, o amor espiritual entra em choque com o espelho do banheiro. Entra em cena O dr...