Casamento às Cegas e o Medo de Dizer “Sim”
Guilherme, na terceira temporada de Casamento às Cegas, é esse tipo de homem. Não o vilão clássico, não o cafajeste óbvio, mas algo talvez mais perigoso: o homem que se esconde atrás da palavra razão para não se comprometer com nada.
Desde o início, ele se apresenta como racional. E repete isso como um mantra, quase como um álibi moral: “eu sou racional”, “eu não sei”, “vamos ver”. O problema é que ninguém entra num programa que termina em altar para ver. Entra-se para decidir.
Maira, por outro lado, entra como quem sabe o que quer. Mulher, mãe, marcada pela vida. Não busca perfeição, busca verdade. Ela não pede promessas eternas, pede apenas um sinal humano: presença, resposta, entrega. Algo que diga: estou aqui.
O drama não nasce do conflito entre eles, mas do desencontro. Maira vive no tempo do agora. Guilherme vive num eterno rascunho. Ele chama tudo de “experimento”, como se o amor fosse um laboratório e não um risco. Como se fosse possível amar sem perder o chão.
Há uma covardia elegante nisso. A covardia do homem que diz “vai que é” sem nunca dar um passo. Ele não diz não. Mas também nunca diz sim. E essa neutralidade, que parece madura, é na verdade uma forma de abandono.
Maira espera uma reação. Não um discurso filosófico, não uma tese sobre sentimentos. Ela espera um gesto. Um corpo que avance. Um homem que pare de se proteger do futuro como quem foge de um incêndio.
E quando percebe que não haverá resposta, ela faz o gesto mais adulto de toda a história: levanta e vai embora. Sem escândalo. Sem histeria. Apenas com a dignidade de quem sabe que não pode convencer alguém a sentir.
Guilherme entra até o fim do programa, mas nunca entra de verdade na relação. Ele confunde prudência com medo. Confunde razão com paralisia. E esquece que o casamento seja às cegas ou de olhos bem abertos não é um experimento científico. É um salto.
Não se trata de julgar Guilherme como mau. Trata-se de entender o tipo de homem que ele representa: o homem moderno que quer todas as garantias antes de amar, todas as saídas antes de entrar, todos os dados antes de viver.
Mas o amor, esse velho escândalo humano, nunca pediu currículo. Nunca pediu planilha. Nunca pediu prazo.
Maira entendeu isso.
Guilherme, talvez um dia entenda.
E quando entender, descobrirá tarde demais que ninguém espera eternamente por quem ainda está pensando se vale a pena sentir.

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