O Surto de Diagnósticos e o Mundo Azul: A Sociedade Está Gerando Autistas?
O Surto de Diagnósticos e o Mundo Azul: A Sociedade Está Gerando Autistas?
Se Machado de Assis vivesse hoje, talvez fizesse de Brás Cubas um neurodivergente, incompreendido em um mundo incapaz de lidar com sua mente peculiar. Nelson Rodrigues, sempre ácido, diria que vivemos um tempo em que "toda família tem um autista para chamar de seu". E Olavo de Carvalho, sem papas na língua, perguntaria: "Isso é ciência ou histeria coletiva?"
A explosão de diagnósticos de autismo nas últimas décadas levanta uma questão desconfortável: estamos descobrindo algo que sempre existiu, ou a sociedade está tão adoecida que está gerando uma epidemia de neurodivergentes?
Os Números Não Mentem (Ou Mentem?)
Os dados são impressionantes:
- Em 2000, apenas 1 em cada 150 crianças era diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
- Em 2023, esse número saltou para 1 em cada 36 crianças** (CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doenças, EUA).
- No Brasil, os diagnósticos cresceram 366% em 10 anos (Ministério da Saúde, 2022).
Se acreditarmos nas estatísticas, há um exército de autistas emergindo. Mas por quê?
O Diagnóstico ou a Sociedade?
Aqui começam as hipóteses.
1. A Ciência Melhorou: Antes, o autismo era mal diagnosticado. Crianças autistas eram rotuladas como "esquisitas", "tímidas" ou "preguiçosas". Com a evolução dos critérios médicos, muitos casos antes ignorados agora são reconhecidos.
2- A Sociedade Está Adoecendo: O mundo pós-moderno, hiperestimulado, cheio de telas e relações líquidas, pode estar afetando o desenvolvimento das crianças. Pais ausentes, excesso de tecnologia e a falta de contato humano podem estar criando cérebros com padrões atípicos.
3. A Cultura da Rotulação: Em uma era onde tudo precisa de um nome, crianças inquietas viram hiperativas, introspectivos viram autistas, e qualquer dificuldade social é vista como um transtorno. Como dizia Nelson Rodrigues, "toda unanimidade é burra" – e o que vemos é um consenso perigoso de que qualquer comportamento fora do padrão precisa de um rótulo clínico.
4. Os Interesses da Indústria: Diagnósticos significam tratamentos, terapias, medicamentos. Quem ganha com essa explosão? O mercado de saúde mental, claro. Como Olavo de Carvalho diria, "sigam o dinheiro".
A Sociedade do Déficit
Rubem Alves dizia que o mundo perdeu a capacidade de contemplação. O autista clássico – introspectivo, analítico, absorto – poderia ter sido um monge medieval, um filósofo, um cientista renascentista. Mas hoje, numa sociedade que exige hiperconectividade e performance social, esses indivíduos são vistos como "problemáticos". O problema está neles ou no mundo que não os compreende?
E há outro ponto essencial: se estamos gerando cada vez mais autistas, qual é a responsabilidade dos pais? Como estamos criando nossos filhos? As telas substituíram as conversas, a pressa substituiu o afeto, e a ansiedade virou um estilo de vida.
Conclusão: O Mundo Mudou, Não o Autismo
No fim, São Paulo já dizia: "Examinai tudo. Retende o que é bom" (1 Tessalonicenses 5:21). Precisamos de discernimento para separar ciência de modismo, compreensão de rótulo, neurodiversidade de patologização.
A verdade incômoda é que não é o autismo que está explodindo. É o mundo que está colapsando. E no meio desse caos, talvez os verdadeiros "neurotípicos" sejam os diferentes.

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