Pesadelo na Gestão: O Brasil é uma Cozinha em Chamas


Se Machado de Assis assistisse a Pesadelo na Cozinha, provavelmente criaria um novo Brás Cubas, mas dessa vez dono de um restaurante falido, culpando a "fatalidade" pelo fracasso do negócio. Nelson Rodrigues, com sua lucidez trágica, não hesitaria em decretar: "Toda empresa no Brasil é uma zona." Eu apontaria o dedo para o problema essencial: o colapso da responsabilidade e da hierarquia.  

A quarta temporada da série de Erick Jacquin revela o que qualquer brasileiro minimamente atento já percebeu: os restaurantes – e por extensão, as empresas – são palcos de um caos operado por gente despreparada, mimada e sem qualquer noção de organização. O Brasil não produz apenas restaurantes desorganizados, mas também escritórios desorganizados, escolas desorganizadas, hospitais desorganizados e, claro, governos desorganizados.  

O Diagnóstico: O Caos Como Norma

Os problemas se repetem em cada episódio da série:  

- Cozinhas imundas, onde a higiene é um conceito abstrato;  

- Funcionários que não sabem o que fazer e não querem ser cobrados;  

- Donos que se recusam a admitir os próprios erros;  

- Falta de estrutura básica – de cardápio a gestão financeira;  

- Um clima emocionalmente tóxico, onde ninguém respeita ninguém.  

E isso não acontece apenas na gastronomia. Olhe para qualquer empresa brasileira e encontrará as mesmas características. Falta liderança, falta visão de longo prazo, falta responsabilidade. E o pior: ninguém aguenta ser criticado. Como Jacquin diz repetidamente na série, “a verdade dói”, mas no Brasil, a verdade é tratada como ofensa pessoal.  

Rubem Alves falaria sobre a ausência de vocação. “Cozinhar é um ato de amor”, ele diria. Mas como amar um ofício quando o próprio trabalhador não ama o que faz? O garçom quer ser influencer, o chef quer ser youtuber, e o dono do restaurante quer desaparecer. A dedicação, o esforço, o compromisso – tudo parece coisa do passado.  

Estatísticas da Falência

Os números não mentem:  

- 60% dos restaurantes fecham antes de completar dois anos (Sebrae, 2023).  

- 70% das pequenas empresas quebram em até 5 anos (IBGE, 2022).  

- A produtividade do trabalhador brasileiro é metade da média mundial (OCDE, 2021).  

Não é à toa que o Brasil patina. Não há método, não há disciplina, não há vontade de melhorar. Em vez de corrigir erros, donos e funcionários preferem terceirizar a culpa: a crise, o governo, os clientes.  

Jacquin entra nos restaurantes como um profeta bíblico, apontando os pecados e exigindo conversão. Mas a verdade é que muitos preferem o inferno do comodismo à salvação do esforço.  

Conclusão: O Brasil é um Restaurante Falido

São Paulo escreveu: "Tudo deve ser feito com ordem e decência" (1 Coríntios 14:40). Mas no Brasil, a bagunça é uma cultura. Quando se fala em disciplina, chamam de autoritarismo. Quando se exige competência, chamam de arrogância. O resultado? Um país que parece uma cozinha abandonada: suja, sem comando e à beira do colapso.  

No fim, Pesadelo na Cozinha não é apenas um programa sobre restaurantes. É um retrato cruel do Brasil. E pior: Jacquin pode salvar um restaurante por episódio. Mas quem vai salvar um país inteiro?

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