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O Amor Não Se Aprende Observando – Uma Crítica à Geração dos Relacionamentos Digitais

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  1. A conversa com um amigo e o cenário comum dos tempos atuais Estava conversando com um amigo sobre a vida e os desencontros amorosos dos nossos tempos. Ele me relatou que algumas mulheres demonstravam certo interesse por ele, mas apenas à distância — curtindo suas fotos, visualizando seus status, stalkeando suas redes, mas sem tomar nenhuma atitude concreta. Quando ele tentava puxar assunto, muitas vezes a resposta era fria, evasiva, ou simplesmente ignorada. Mas elas continuavam ali, firmes, como aves de rapina: observando. E me perguntei — o que elas acham que vão encontrar só olhando? 2. A ilusão da observação: o amor não acontece por telepatia Existe uma fantasia moderna de que observar o outro é suficiente para se aproximar ou até criar algum vínculo. Mas o amor exige risco, ação, entrega. Não se constrói uma relação por vigilância digital. Isso é um erro emocional e espiritual. O amor exige prática. Assim como não se aprende confeitaria apenas assistindo vídeos, não se ap...

Por que ter filhos virou um ato de rebeldia conservadora — e o que isso revela sobre nossa crise social

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  Em um mundo onde a taxa de natalidade despenca e a fé na família tradicional é vista com desconfiança, ter filhos — especialmente muitos — tornou-se, paradoxalmente, um gesto contracultural. Essa é a provocação central do artigo de Madeleine Kearns, publicado em 26 de abril de 2025, que analisa por que conservadores e religiosos estão liderando uma espécie de “resistência pró-natalidade” em meio ao colapso demográfico do Ocidente. 📉 A crise da natalidade: um colapso silencioso Nos Estados Unidos, a taxa de fertilidade caiu para 1,6 filho por mulher — bem abaixo do nível de reposição populacional (2,1). Esse fenômeno, conhecido como “birth dearth”, afeta diretamente a sustentabilidade de sistemas como a Previdência Social, escolas e universidades, que enfrentam dificuldades para preencher vagas. A sociedade, estruturada como uma pirâmide onde os jovens sustentam os mais velhos, vê sua base erodir rapidamente.  👩‍👧‍👦 A resposta conservadora: fé, família e propósito  E...

A Filosofia de Douglas Viegas: Uma Análise Crítica

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  Douglas Viegas, conhecido como "Poderosíssimo Ninja", emergiu no cenário nacional como ex-jogador de basquete e influenciador digital. Sua filosofia de vida, marcada pela franqueza e autenticidade, conquistou uma legião de seguidores. Contudo, é imperativo analisar criticamente os fundamentos e impactos de suas ideias. A Filosofia Ninja: Autenticidade e Resiliência Viegas prega a importância de ser verdadeiro consigo mesmo e enfrentar os desafios com coragem. Em suas palavras: "Lute contra esse trouxa que há dentro de você." Essa abordagem incentiva a autoavaliação e o crescimento pessoal, promovendo uma mentalidade de resistência às adversidades. A Popularidade nas Redes Sociais Sua presença digital é significativa, com vídeos que acumulam milhares de visualizações. Por exemplo, sua reflexão sobre não se importar com a opinião alheia alcançou ampla audiência. Essa popularidade reflete uma identificação do público com sua mensagem direta e descomplicada. Uma Visão...

O Surto de Diagnósticos e o Mundo Azul: A Sociedade Está Gerando Autistas?

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  O Surto de Diagnósticos e o Mundo Azul: A Sociedade Está Gerando Autistas? Se Machado de Assis vivesse hoje, talvez fizesse de Brás Cubas um neurodivergente, incompreendido em um mundo incapaz de lidar com sua mente peculiar. Nelson Rodrigues, sempre ácido, diria que vivemos um tempo em que "toda família tem um autista para chamar de seu". E Olavo de Carvalho, sem papas na língua, perguntaria: "Isso é ciência ou histeria coletiva?"   A explosão de diagnósticos de autismo nas últimas décadas levanta uma questão desconfortável: estamos descobrindo algo que sempre existiu, ou a sociedade está tão adoecida que está gerando uma epidemia de neurodivergentes?   Os Números Não Mentem (Ou Mentem?) Os dados são impressionantes:   - Em 2000, apenas 1 em cada 150 crianças era diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA).   - Em 2023, esse número saltou para 1 em cada 36 crianças** (CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doenças, EUA).   - No Brasil, os dia...

O Medo na Fila do Ônibus e o Teatro da Mídia

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  Era uma tarde como qualquer outra no Rio de Janeiro. No terminal de ônibus, uma fila sem fim, rostos cansados, olhares desconfiados. Entre eles, uma mulher, segurando firme sua bolsa, com os olhos arregalados, vigiava um jovem de boné e fones de ouvido. A cada movimento dele, um sobressalto. O garoto, alheio à tragédia imaginária que se desenrolava em sua cabeça, apenas balançava a cabeça no ritmo de um hip hop qualquer.   E foi aí que me veio a reflexão: quando foi que chegamos nesse ponto? Quando foi que nos ensinaram a temer por padrão, a ver ameaça onde só há um jovem ouvindo música? A resposta não é difícil de encontrar. A mídia – esse grande teatro do terror – alimenta nosso medo como se fosse ração diária. O medo vende. A tragédia fideliza.   O medo como produto midiático O ciclo é sempre o mesmo. O noticiário abre com um assalto brutal, um arrastão filmado por câmeras tremidas de celulares. Gritos, correria, desespero. O telespectador médio ajusta o cadeado da p...

Pesadelo na Gestão: O Brasil é uma Cozinha em Chamas

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Se Machado de Assis assistisse a Pesadelo na Cozinha, provavelmente criaria um novo Brás Cubas, mas dessa vez dono de um restaurante falido, culpando a "fatalidade" pelo fracasso do negócio. Nelson Rodrigues, com sua lucidez trágica, não hesitaria em decretar: "Toda empresa no Brasil é uma zona." Eu apontaria o dedo para o problema essencial: o colapso da responsabilidade e da hierarquia.   A quarta temporada da série de Erick Jacquin revela o que qualquer brasileiro minimamente atento já percebeu: os restaurantes – e por extensão, as empresas – são palcos de um caos operado por gente despreparada, mimada e sem qualquer noção de organização. O Brasil não produz apenas restaurantes desorganizados, mas também escritórios desorganizados, escolas desorganizadas, hospitais desorganizados e, claro, governos desorganizados.   O Diagnóstico: O Caos Como Norma Os problemas se repetem em cada episódio da série:   - Cozinhas imundas, onde a higiene é um conceito abstrato;   - ...

O Homem Covarde no Amor: Entre a Reclamação e o Medo

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O homem moderno, esse ser que se diz solitário, queixa-se do vazio, lamenta a falta de afeto, mas treme diante da possibilidade de amar. Quer uma mulher, clama aos céus por um romance, mas quando ela aparece, recua. Há os que têm medo da rejeição e há os que têm medo da aceitação. Sim, porque aceitar o amor implica compromisso, e compromisso exige coragem.   Hoje, ele é apenas hesitante. Ele ama, mas não ousa. Deseja, mas não luta. É um Dom Juan às avessas, não porque seduz muitas, mas porque não tem coragem de ficar com nenhuma. Quando surge uma mulher que poderia ser sua, ele gagueja, foge, some, ou, pior, estraga tudo.   Que esses homens vivem como personagens de suas próprias ilusões. Eles criam expectativas, constroem castelos de areia e depois se espantam quando o mar os engole. São inseguros, e sua insegurança os condena ao fracasso. Iniciam promessas, trocam olhares esperançosos, mas, no momento em que o jogo da conquista pede consistência, recuam, atolam-se em desculp...