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Catequese Digital – ou o amor nos tempos do YouTube

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  Era um domingo de sol preguiçoso, desses que a alma cochila depois do almoço. A vizinhança dormia, o ventilador rangia, e eu pecador comum abri o YouTube como quem abre o confessionário. Eis que surge, luminosa, uma mulher católica dando conselhos sentimentais a homens católicos. Ela falava com a convicção de quem já salvou meia dúzia de corações e perdeu os outros na estatística. Dizia que “não é difícil conversar com uma mulher católica”  e eu pensei: claro que não, difícil é saber se ela é católica mesmo ou apenas frequenta a missa como quem frequenta uma cafeteria com boa acústica. A pregadora, entre um sorriso e outro, oferecia uma lista de virtudes: observar as pulseiras de consagração, estudar os hábitos da moça, saber o horário da missa. Quase um manual de caça espiritual, com mais tática que oração. Mas e aqui Nelson Rodrigues ergueria o dedo teatral esquecia o detalhe mais trágico: há mulheres que falam demais e outras que já esqueceram o verbo “falar”. Vivemos ...

O Que é o Jogo de Jumanji

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  O jogo de Jumanji é um artefato místico e amaldiçoado, um tabuleiro (ou, nas versões modernas, um videogame) que suga os jogadores para dentro de si, obrigando-os a enfrentar seus próprios medos, pecados e vaidades. Ele não é um simples passatempo: é uma provação espiritual, uma espécie de purgatório travestido de aventura, onde o jogador só vence quando deixa de fugir de si mesmo. Em outras palavras: Jumanji é o mundo interior de cada um, transformado em selva — caótica, perigosa e cheia de monstros que têm o rosto dos nossos erros.  O simbolismo do jogo O tabuleiro é o destino — uma entidade que não pergunta se queremos jogar. Ele simplesmente lança os dados e nos empurra à luta. Os dados são a liberdade — parecem dar escolha, mas já estão contaminados pelo acaso, pelo absurdo da existência. A selva é o inconsciente — onde os instintos dormem, onde o homem civilizado é forçado a reaprender a sobreviver. Cada rodada do jogo é um teste moral, uma humilhação necessár...

Jumanji – O Tabuleiro da Alma Humana

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  Em Jumanji, ninguém joga por vontade própria joga porque a vida é um dado que insiste em rolar. A sinopse, aliás, é simples como o inferno: um grupo de pessoas encontra um jogo misterioso que, ao ser iniciado, toma conta da realidade. Cada jogada traz monstros, perigos e, pior que tudo, verdades. Porque Jumanji não é um jogo é o espelho moral de quem o joga. Alan Parrish, o menino que desaparece no tabuleiro, é o símbolo da alma aprisionada pelo medo. Ele foge do pai, da responsabilidade, do tempo — e o jogo o engole. Quando retorna, o mundo mudou, mas ele continua o mesmo: um adulto com traumas de criança. É o Adão que nunca saiu do Éden, condenado a se esconder entre cipós e leões. Sarah Whittle é a culpa viva. Foge do jogo, foge de si, foge do amor. Mas o jogo como Deus não esquece ninguém. Um dia, a partida recomeça. E lá está ela, obrigada a confrontar aquilo que fingia ter esquecido. Em Jumanji: Bem-Vindo à Selva, os pecados mudam de roupa, mas continuam os mesmos. Spencer,...

A Eterna Tragédia da Traição

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  Ontem me deparei com uma notícia que parecia saída das páginas mais sombrias de um folhetim policial. Uma mulher, tomada por um ciúme que nem sequer tinha provas, despejou uma panela de água fervente sobre o marido. A suspeita? Uma mensagem, talvez um boato, talvez uma ilusão. Não havia certeza mas havia a violência. E eu me pergunto: a traição é algo tão hediondo a ponto de justificar o surto, a fúria, a mutilação? Ou será que nos tornamos escravos de uma cultura que alimenta a suspeita e o ressentimento como se fossem combustíveis do amor? As estatísticas são claras: pesquisas apontam que entre 40% a 60% dos relacionamentos já sofreram algum tipo de infidelidade. Isso não é apenas um dado; é uma tragédia anunciada, repetida, cantada em refrões de música popular, em novelas e séries que fazem da traição um espetáculo. Basta lembrar a canção “50 Reais”, que fez multidões cantarem a desgraça da infidelidade como se fosse catarse coletiva. Mas pergunto: quando foi que a traição dei...

O Silêncio dos Bons é o Barulho do Desespero

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A mente de quem procura um emprego e não encontra não é um campo de batalha é um cemitério de esperanças. Cada currículo enviado é um enterro. Cada silêncio é uma cova aberta na autoestima. O desempregado não quer luxo, quer um lugar no mundo. Mas a sociedade, cínica e apressada, olha para ele como se carregasse uma praga. O silêncio dos amigos que dizem: Machado de Assis escreveria que o desempregado é uma alma que vive na antevéspera do abismo. O sujeito acorda cedo, se veste de esperança, toma café com ansiedade, e sua mente já começa o turno da angústia antes mesmo de sair da cama. diria Machado, com sua pena fina e morta E Nelson Rodrigues, se falasse do desempregado, escreveria:  Há também os que dizem: Na mente do desempregado, forma-se um ciclo cruel: Primeiro, a fé. Depois, a frustração. Em seguida, o desespero. Por fim, a indiferença – não a dos outros, mas a própria. Ele começa a crer que não serve para nada. Que talvez seja melhor parar de tentar. Começa a...

Crítica Filme a Lenda: “A Tentação Usa Vestido Preto” — Uma Tragédia em Flor e Chifre

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  “A Lenda” não é apenas um conto de fadas. É uma missa negra, um teatro grego, um beijo no rosto dado pelo diabo em pessoa. É a história de como a beleza seduz, como a pureza vacila, e como o mal — ah, o mal! — aparece mais bem vestido que todos os anjos do céu. Sinopse à moda antiga, com pecado e purpurina Jack é um jovem da floresta, meio selvagem, meio santo, completamente apaixonado por Lily, uma princesa que tem o rosto de um anjo e o coração… bem, o coração é terreno demais. Lily, como toda mulher de tragédia, não resiste à tentação de tocar o que é sagrado — os unicórnios — e com isso entrega o mundo à escuridão. A floresta mergulha na noite. O Senhor das Trevas, que parece ter saído de um pesadelo dirigido por Dante Alighieri e maquiado por um demônio apaixonado por teatro, aparece com seus chifres monumentais e sua voz cavernosa para oferecer a Lily o que ela nunca teve: o poder de ser desejada pelo próprio mal. A Tentação não é gritada. É sussurrada. O mais terrível do f...

“Bruxas de Batom e Perfume: A Maternidade Deturpada, a Criança Rata e o Mundo que Odeia os Inocentes”

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Existe um mal que se esconde de batom e perfume. Ele veste salto, fala doce, distribui balas — e mata a infância. É esse o horror mais profundo por trás do filme Convenção das Bruxas (1990), adaptação do livro de Roald Dahl. Um terror infantil que, ao ser visto com olhos cristãos e conservadores, revela um grito silencioso contra a deturpação da figura materna, o ódio às crianças e o triunfo do hedonismo disfarçado de empoderamento. O demônio da maquiagem: quando o rosto cai A cena mais emblemática do filme é quando as bruxas tiram suas “máscaras” — maquiagem, perucas, unhas postiças. É o momento em que a feminilidade de fachada dá lugar ao demônio por trás do verniz. Não é mais uma mulher: é um monstro que odeia a pureza. Como diria Olavo de Carvalho: “a mentira moderna vem bem vestida, perfumada e com diploma.” A bruxa moderna já não vive em florestas, mas em redes sociais, fóruns ideológicos, escolas progressistas. O feminismo radical, que pariu um tipo de mulher que rejeita a mater...