A Indiferença Digital: A Solidão Como Serviço
Nunca fomos tão conectados e, ao mesmo tempo, nunca estivemos tão sozinhos. O sujeito acorda, boceja, coça o umbigo e, antes de dizer “bom dia” à esposa – se ainda houver uma –, já está abrindo o WhatsApp. Mas, atenção: ele não quer conversar. Ele quer ver sem ser visto. A tecnologia, que um dia prometeria nos unir, hoje nos oferece um verdadeiro arsenal para fugirmos uns dos outros.
A cada atualização, as redes sociais nos dão novos meios para desaparecer. No WhatsApp, você pode tirar o “visto por último”, pode sumir com os checks azuis, pode esconder sua foto, pode silenciar alguém para sempre. No Instagram, pode arquivar, restringir, bloquear sem que o outro saiba. E assim seguimos, colecionando contatos sem jamais precisar olhá-los nos olhos.
Os números da indiferença
O que vemos é uma geração que se esconde. Segundo um estudo da We Are Social (2024), 63% das pessoas já ignoraram mensagens intencionalmente sem sequer abrir. Mas, ao mesmo tempo, 78% afirmam sentir solidão frequentemente. Eis a grande ironia do nosso tempo: criamos tecnologias que deveriam nos aproximar, mas que servem apenas para nos afastar de maneira silenciosa.
Se antes a indiferença era um luxo dos ricos e dos cínicos, hoje virou o esporte favorito da plebe digital. O cidadão moderno não precisa mais dizer “não” – basta deixar no vácuo. A covardia virou ferramenta, e a omissão, um novo idioma.
A Era do Descarte
Mas qual é o motivo desse fenômeno? Por que nos escondemos? Simples: porque as relações humanas foram rebaixadas à categoria de consumo rápido. As redes sociais transformaram pessoas em produtos descartáveis. Hoje, a indiferença não é só permitida – ela é incentivada. Quanto mais gente ignoramos, mais nos sentimos no controle. Quanto menos nos envolvemos, mais acreditamos estar imunes ao sofrimento.
No fundo, vivemos a era da solidão programada. O WhatsApp e o Instagram não são redes sociais – são trincheiras, onde nos protegemos do outro, onde fingimos que não sentimos falta de ninguém. Mas a verdade é que, no final do dia, toda essa “privacidade” só nos torna prisioneiros de nós mesmos.
E assim seguimos: todos conectados, todos ilhados.

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