Beata Nhá Chica e a Providência Divina: Entre a Fé e a Espera

 

Há na história de Nhá Chica uma verdade que atravessa os séculos: a fé não é para os fracos. Se o brasileiro médio conhecesse de fato o que é confiar na Providência Divina, como fez essa mulher analfabeta e de alma maior que seu tempo, talvez vivesse menos ansioso e mais resignado à vontade de Deus. Mas não: prefere entregar-se ao desespero, ao desassossego, ao culto da urgência.  

Nhá Chica não teve posses, não teve marido, não teve filhos. Poderia ter tido tudo isso, mas fez a escolha que poucos têm coragem de fazer: pôs sua vida inteira nas mãos de Deus. que essa entrega absoluta é a grande ironia do espírito: os homens lutam, correm, batalham por um controle que nunca tiveram. E quando encontram um exemplo de serenidade como o de Nhá Chica, chamam-no de ingênuo, quando na verdade ali reside a mais pura sabedoria. 

A fé da Beata é uma dessas “coisas que só acontecem no Brasil”. No entanto, se analisarmos estatísticas de devoção popular, veremos que a confiança na Providência Divina não é uma exclusividade nossa. Em um estudo do Pew Research Center, cerca de 76% da população mundial afirma acreditar que Deus tem um plano para suas vidas. Mas entre dizer e viver, há um abismo.  

A modernidade não compreende mais essa ideia de entrega. No mundo das certezas científicas e das ideologias que pretendem resolver tudo na ponta do lápis, a Providência soa como um delírio de almas passivas. No entanto, olhemos os números: a ansiedade nunca esteve tão alta. No Brasil, segundo a OMS, cerca de 9,3% da população sofre de transtorno de ansiedade – uma das maiores taxas do mundo. Ora, se o homem moderno acredita tanto no próprio controle, por que vive atormentado?  

Nhá Chica nos ensina que confiar em Deus não significa esperar de braços cruzados, mas sim trabalhar com o coração tranquilo. A mulher que nada tinha passou a vida ajudando os pobres, aconselhando os aflitos e construindo uma igreja sem um tostão no bolso, apenas com a fé de que Deus proveria. E proveu.  

Machado de Assis sorriria ao ver como o destino pregou peças nos descrentes: a Beata, sem poder, sem dinheiro e sem influência política, foi beatificada e sua fama ecoa por gerações. Nelson Rodrigues, com seu olhar de tragédia e glória, diria que, no fim, Nhá Chica venceu – e venceu porque soube esperar. Já Olavo de Carvalho faria um alerta: aqueles que confiam em Deus têm algo que o mundo moderno perdeu – um sentido para viver.  

No fim das contas, o que a Beata nos ensina é que colocar as coisas nas mãos de Deus não é alienação, mas discernimento. A verdadeira paz não está em resolver tudo sozinho, mas em compreender que há Alguém que vê além do que podemos ver. Nhá Chica soube disso, e nós?

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