O Rei do Gado – O Último Suspiro do Romance Brasileiro

 

Se há algo que o Brasil esqueceu nos últimos tempos, é a arte de amar com grandeza. Antigamente, os romances tinham traições épicas, paixões avassaladoras, brigas por terras e fortunas. Hoje, a tragédia amorosa do brasileiro médio se resume a uma conversa ignorada no WhatsApp. E é por isso que O Rei do Gado, novela exibida pela primeira vez em 1996, segue sendo um fenômeno. Foi reprisada em 2022 e bateu recordes de audiência, superando muitas produções modernas. E por quê? Simples: porque é um retrato de um Brasil que já não existe.  

O público assiste a O Rei do Gado como quem vê um museu de sentimentos extintos. Lá estão os homens viris, que falam pouco e fazem muito. Bruno Mezenga (Antonio Fagundes) não manda emoji nem faz textão; ele simplesmente ama Luana (Patrícia Pillar) com a força bruta de um fazendeiro que não sabe o que é um aplicativo de namoro. Aliás, ele não precisa de tutorial para ser homem. Hoje, um sujeito qualquer digita no Google: "como conquistar uma mulher", e aparece uma lista de regras absurdas. Antigamente, bastava um olhar e pronto: o amor estava selado.  

E os números não mentem: em 2023, mais de 60% dos brasileiros não estavam casados. O casamento, outrora sagrado, virou uma relíquia. E por isso novelas como O Rei do Gado continuam emocionando. Mostram um mundo em que os homens ainda lutavam por terras, por honra e, principalmente, por suas mulheres. O romance de Bruno e Luana é um espetáculo de força e resistência, algo que já não se vê numa era em que relacionamentos acabam por falta de curtidas nas redes sociais.  


Se Nelson Rodrigues vivesse para ver esse espetáculo moderno de indiferença e frieza, diria: "O Brasil trocou os grandes romances por mensagens visualizadas e não respondidas. No fim, somos todos bois no pasto da solidão."

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Jogo de Barbante: O Retrato da Incerteza no Amor Contemporâneo

Crítica Filme a Lenda: “A Tentação Usa Vestido Preto” — Uma Tragédia em Flor e Chifre

Crítica de “Questão de Tempo” (2013): O Amor Como Uma Viagem no Tempo