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O Surto de Diagnósticos e o Mundo Azul: A Sociedade Está Gerando Autistas?

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  O Surto de Diagnósticos e o Mundo Azul: A Sociedade Está Gerando Autistas? Se Machado de Assis vivesse hoje, talvez fizesse de Brás Cubas um neurodivergente, incompreendido em um mundo incapaz de lidar com sua mente peculiar. Nelson Rodrigues, sempre ácido, diria que vivemos um tempo em que "toda família tem um autista para chamar de seu". E Olavo de Carvalho, sem papas na língua, perguntaria: "Isso é ciência ou histeria coletiva?"   A explosão de diagnósticos de autismo nas últimas décadas levanta uma questão desconfortável: estamos descobrindo algo que sempre existiu, ou a sociedade está tão adoecida que está gerando uma epidemia de neurodivergentes?   Os Números Não Mentem (Ou Mentem?) Os dados são impressionantes:   - Em 2000, apenas 1 em cada 150 crianças era diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA).   - Em 2023, esse número saltou para 1 em cada 36 crianças** (CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doenças, EUA).   - No Brasil, os dia...

O Medo na Fila do Ônibus e o Teatro da Mídia

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  Era uma tarde como qualquer outra no Rio de Janeiro. No terminal de ônibus, uma fila sem fim, rostos cansados, olhares desconfiados. Entre eles, uma mulher, segurando firme sua bolsa, com os olhos arregalados, vigiava um jovem de boné e fones de ouvido. A cada movimento dele, um sobressalto. O garoto, alheio à tragédia imaginária que se desenrolava em sua cabeça, apenas balançava a cabeça no ritmo de um hip hop qualquer.   E foi aí que me veio a reflexão: quando foi que chegamos nesse ponto? Quando foi que nos ensinaram a temer por padrão, a ver ameaça onde só há um jovem ouvindo música? A resposta não é difícil de encontrar. A mídia – esse grande teatro do terror – alimenta nosso medo como se fosse ração diária. O medo vende. A tragédia fideliza.   O medo como produto midiático O ciclo é sempre o mesmo. O noticiário abre com um assalto brutal, um arrastão filmado por câmeras tremidas de celulares. Gritos, correria, desespero. O telespectador médio ajusta o cadeado da p...

Pesadelo na Gestão: O Brasil é uma Cozinha em Chamas

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Se Machado de Assis assistisse a Pesadelo na Cozinha, provavelmente criaria um novo Brás Cubas, mas dessa vez dono de um restaurante falido, culpando a "fatalidade" pelo fracasso do negócio. Nelson Rodrigues, com sua lucidez trágica, não hesitaria em decretar: "Toda empresa no Brasil é uma zona." Eu apontaria o dedo para o problema essencial: o colapso da responsabilidade e da hierarquia.   A quarta temporada da série de Erick Jacquin revela o que qualquer brasileiro minimamente atento já percebeu: os restaurantes – e por extensão, as empresas – são palcos de um caos operado por gente despreparada, mimada e sem qualquer noção de organização. O Brasil não produz apenas restaurantes desorganizados, mas também escritórios desorganizados, escolas desorganizadas, hospitais desorganizados e, claro, governos desorganizados.   O Diagnóstico: O Caos Como Norma Os problemas se repetem em cada episódio da série:   - Cozinhas imundas, onde a higiene é um conceito abstrato;   - ...

O Homem Covarde no Amor: Entre a Reclamação e o Medo

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O homem moderno, esse ser que se diz solitário, queixa-se do vazio, lamenta a falta de afeto, mas treme diante da possibilidade de amar. Quer uma mulher, clama aos céus por um romance, mas quando ela aparece, recua. Há os que têm medo da rejeição e há os que têm medo da aceitação. Sim, porque aceitar o amor implica compromisso, e compromisso exige coragem.   Hoje, ele é apenas hesitante. Ele ama, mas não ousa. Deseja, mas não luta. É um Dom Juan às avessas, não porque seduz muitas, mas porque não tem coragem de ficar com nenhuma. Quando surge uma mulher que poderia ser sua, ele gagueja, foge, some, ou, pior, estraga tudo.   Que esses homens vivem como personagens de suas próprias ilusões. Eles criam expectativas, constroem castelos de areia e depois se espantam quando o mar os engole. São inseguros, e sua insegurança os condena ao fracasso. Iniciam promessas, trocam olhares esperançosos, mas, no momento em que o jogo da conquista pede consistência, recuam, atolam-se em desculp...

O Homem e Sua Solidão: Entre o Abismo e a Graça

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  Há na alma humana uma sede, um desespero, um buraco negro que engole tudo e nunca se sacia. O Salmo 66, 8-14 nos revela uma verdade incômoda: quando a vida corre bem, entramos em euforia, buscamos aventuras, nos cercamos de amigos de ocasião. Mas quando a angústia nos aperta, queremos a Deus – não pelo que Ele é, mas pelo que pode nos dar. Queremos alívio, respostas, queremos que Ele nos tire do buraco, mas não queremos o próprio Deus. Somos como crianças mimadas que só lembram do pai quando precisam de dinheiro.   Há uma beleza na tragédia de quem sofre, pois o sofrimento desnuda nossas ilusões. Mas quem está disposto a enxergar? É mais fácil se lançar em relações vazias, correr atrás de euforias passageiras, fingir que estamos no controle. A solidão nos assombra, e para fugir dela, mergulhamos em prazeres que logo se tornam novas formas de desespero.   O homem é um ser de hábitos, e nossos hábitos nos escravizam. A indiferença do mundo nos machuca, o abandono nos cort...

Crítica de Deus é Brasil – Um Reflexo da Nação ou uma Quimérica Tentativa de Exorcizar as Sombras do Passado?

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  Se o cinema brasileiro já é um terreno fértil para os dilemas da identidade nacional, Deus é Brasil parece, à primeira vista, uma tentativa de exorcizar os fantasmas de um país que nunca se decidiu entre o divino e o terreno. Um filme que se propõe a olhar para o Brasil sob a lente de uma narrativa religiosa, enquanto faz uma crítica velada e corrosiva a um povo que, em sua ânsia por uma redenção divina, parece cada vez mais distante da salvação verdadeira. Se Nelson Rodrigues estivesse vivo, ele certamente veria em Deus é Brasil uma imagem sintomática de um país que adora viver em suas próprias contradições. Rodrigues, que sempre esteve atento ao desespero do homem moderno, à sua busca por um sentido que nunca é encontrado, poderia fazer de Deus é Brasil uma de suas mais afiadas crônicas sociais. O filme, em sua tentativa de explorar o divino no contexto nacional, não escapa da hipocrisia, da farsa e da tragédia humanas. Para Nelson Rodrigues, o Brasil seria o personagem central...

Análise das HQs Sandman de Neil Gaiman – O Universo de Sonhos e a Realidade das Sombras

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 Ao nos debruçarmos sobre a obra Sandman de Neil Gaiman, somos invadidos por um universo fantástico, poético e ao mesmo tempo sombrio. Em uma sociedade saturada de superficialidades, onde o imediato e o consumismo ditam o ritmo da vida cotidiana, Sandman surge como uma alegoria complexa que transita entre o real e o irreal, o simbólico e o literal. Com sua crítica à perda do discernimento espiritual e filosófico, Sandman nos convoca a refletir sobre os grandes dilemas da existência humana: o destino, a liberdade, o mal e o bem, e, acima de tudo, os limites do imaginário humano frente à realidade. A Jornada de Morpheus: Entre a Realidade e os Sonhos Sandman nos apresenta Morpheus, o Senhor dos Sonhos, uma entidade que governa o reino dos sonhos, mas também é prisioneiro de seus próprios erros e limitações. Aqui, a figura de Morpheus poderia ser comparada a um anti-herói, alguém que, assim como o próprio ser humano, se vê forçado a lidar com suas falhas e consequências de ações que, ...