Crônica: Castelo Rá-Tim-Bum e o Brasil das Fachadas

 

Ah, meus amigos, o “Castelo Rá-Tim-Bum”! Esse monumento à imaginação, esse colosso de fantasia e inteligência, ergueu-se na TV brasileira como um protesto silencioso contra a burrice e o desleixo. Onde mais um rato falante podia nos ensinar ciências e um bruxo desajeitado fazia magia sem humilhar a inteligência de ninguém? Era um Brasil que ainda sabia contar histórias, que ainda tinha vergonha na cara. O "Castelo" não subestimava a criançada, nem despejava narrativas vazias com rótulos de educativas. Ali havia história, havia criação, havia algo que se podia chamar de arte.

E olhem onde estamos agora! Vivemos uma era de fachadas, meus caros. A novela, que já foi a crônica do nosso povo, cheia de amores mal-resolvidos e traições épicas, virou um desfile de personagens sem substância. Peguem, por exemplo, "O Rei do Gado": uma história simples, é verdade, mas impregnada de amor, de luta, de Brasil. A novela era bruta, feita de carne e osso, cheia de gente que amava e sofria. Era nosso país ali na tela, sem maquiagem. O amor do caipira e da mocinha, o fazendeiro e o peão, o drama que unia a cidade e o campo. E hoje? Hoje temos roteiros feitos de papelão, com casais que não amam, apenas posam.

A música? Ah, a música também não escapou. Onde estão nossos sambistas, nossos trovadores? Substituímos as canções da dor e da alegria pela batida fácil e pela letra rasa. Não temos mais Tom, não temos mais Chico. E eu vos pergunto: quantos “castelos” ainda veremos ruir? O "Castelo Rá-Tim-Bum" foi um sopro de esperança, uma pequena revolução. Mas nossa cultura é agora feita de plástico, de aparências, de vitrines vazias.

Dói dizer isso, mas estamos nos afogando em narrativas baratas, em histórias que não são nossas. O “Castelo Rá-Tim-Bum” é um lembrete triste do que já fomos: um Brasil com ideias, com criatividade, com alma. E talvez, meus amigos, se quisermos nos reencontrar, precisemos voltar a esses castelos do passado e buscar neles a força para reconstruir a nossa cultura – antes que ela vire, de uma vez por todas, apenas fachada.

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