O Cansaço Crônico do Homem Moderno
O homem moderno não anda, ele arrasta. Já não acorda, ressurge. E nem respira – apenas se esforça. É uma multidão de almas exaustas, uma procissão de vivos que mais parecem mortos. O brasileiro, antes vigoroso como um cavalo solto no campo, agora se debate como um passarinho preso. Aonde foi parar o ânimo, o fogo de viver?
Hoje, todos estão cansados. Da senhora com sacolas na mão ao executivo engravatado; da moça de salto alto ao garoto de mochila. Ninguém mais tem tempo, ninguém mais tem alma. E o mais incrível, o mais absurdo: todos aceitam essa rotina de zumbis com um estranho orgulho, como se o cansaço fosse uma medalha. Basta perguntar “como vai?” e lá vem a resposta: "Ah, estou exausto". Exaustos, sempre exaustos. Esse é o lema do século.
O cansaço, meus caros, é o novo "status" – se você não está cansado, é porque não fez nada. Porque quem faz, quem luta, quem "vive" está sempre cansado. E assim seguimos, a glorificar nossa própria fadiga, como se fosse prova de sucesso. A verdade, porém, é mais amarga: o homem moderno não está cansado porque faz muito; ele está cansado porque vive de menos. É um cansaço de quem perdeu a direção, de quem vive correndo em círculos, sem saber onde vai parar.
Antigamente, nossos avós trabalhavam no campo, de sol a sol, e dormiam o sono dos justos. Hoje, corremos para o trabalho como se fosse uma maratona, com a certeza de que o dia seguinte será igual, uma repetição insana da mesma jornada. Se nossos antepassados eram soldados do campo, o homem moderno é prisioneiro de si mesmo – um soldado derrotado, cansado, sem ter ao menos uma batalha para contar.
E então, no final do dia, o que resta? Uma televisão ligada, uma tela de celular que brilha na escuridão, como uma vela triste. O homem moderno não relaxa – ele desaba. Ele não descansa – ele desiste. E os sonhos? Ah, esses se perdem no travesseiro, sufocados pelo peso da rotina, até que não sobre mais nada além de uma vida marcada pelo desânimo e o desinteresse.
Esse cansaço não é físico; é uma doença da alma. É o cansaço de quem não sabe mais onde está, de quem perdeu o sentido do próprio viver. Não é à toa que o homem moderno, no auge de toda sua tecnologia, sua pressa e sua glória, é também o mais infeliz. Ele esqueceu o que é viver. E talvez, só talvez, ele descubra que o maior luxo que poderia desejar não é mais tempo, nem mais dinheiro, mas apenas um pouco de paz – essa coisa tão rara e, ao mesmo tempo, tão esquecida.
E lá vai o homem moderno, arrastando sua existência com passos lentos, num cansaço que ninguém consegue explicar, mas que todos, sem exceção, sentem na pele.
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