Crônica: "A Tragédia do Emprego Moderno: E o Pobre Brasileiro, Perdido Entre Burocracias e Boas Intenções
Ah, o emprego nos tempos modernos! Eu diria que estamos assistindo a um drama de proporções épicas, tão trágico e paradoxal quanto um clássico grego – mas ambientado nos labirintos do RH e nas filas do SINE. No Brasil, o trabalhador enfrenta um espetáculo kafkiano, onde é cobrado a ser ao mesmo tempo prodígio e conformado, jovem e experiente, obediente e criativo – tudo com o salário de uma nota de três reais.
Imagine, então, o pobre diabo. Cansado de se aventurar entre vagas mal pagas e promessas de crescimento que evaporam feito fumaça, ele decide "procurar emprego." Como se ainda fosse possível acreditar nessa expressão tão carregada de otimismo. Porque, convenhamos, hoje em dia ninguém "procura" um emprego – emprego, no Brasil, é como ouro de tolo, uma miragem que surge no deserto da burocracia e desaparece na primeira rodada de entrevistas.
Primeiro, ele abre o site de vagas e encontra ali um mar de anúncios. Mas em cada uma delas, um problema distinto. "Procura-se jovem com 20 anos de experiência." "Salário a combinar" (e, na hora, você descobre que o "a combinar" é na faixa dos dois salários mínimos). Em outros, exigem habilidades que parecem dignas de um super-herói: saber programar, vender, liderar, fazer planilhas e talvez até dançar salsa, porque, claro, é importante ser “dinâmico”.
E quando o desventurado consegue finalmente ser chamado para a entrevista, eis que surge a verdadeira peça de teatro! Ele se senta diante do recrutador, que, sem qualquer hesitação, pergunta: “Mas por que você não fez um MBA em Gestão Estratégica de Big Data aplicada ao Setor B2B?” O candidato pensa, por um segundo, em como ele mal conseguiu pagar pela sua própria formação básica, mas se contém e sorri. Não há espaço para lamentos em uma sala de entrevista.
O que agrava ainda mais essa comédia de erros é a tal da jornada de trabalho. No papel, é 6x1, mas, na prática, o trabalhador se vê preso a um 7x24. E quem nunca ouviu aquela frase: "aqui somos uma família"? O salário é pequeno, a rotina exaustiva, e há sempre a expectativa de um “algo a mais” – um esforço extra, um comprometimento irrestrito, tudo em nome do emprego que ele conseguiu com tanto sacrifício. Afinal, dizem as estatísticas, cerca de 28% dos trabalhadores estão em empregos informais; outros 11% estão subempregados. E, ainda assim, ouvimos que o problema é "falta de vontade."
Nesse mar de dificuldades, o pobre trabalhador segue, espremido entre as exigências da empresa e a monstruosa burocracia do Estado. Cada vez mais empobrecido, ele paga seus impostos, sustenta uma máquina que consome metade do seu suor, enquanto tenta manter a cabeça erguida, lembrando-se, talvez, de um Brasil que ele um dia achou que seria grande.
Ah, sim! As estatísticas… dizem que apenas 20% das pessoas conseguem uma vaga com salário que cubra suas despesas básicas. Os outros 80%? Esses sobrevivem, entre um bico e outro, acreditando que o sonho do emprego estável ainda não morreu – só está, talvez, mais trágico do que nunca.
Ah, e ainda há o toque final nesse teatro da hipocrisia: dizem, com uma leveza cruel, que a culpa é toda sua. Sim, amigo, se você está desempregado, é porque você não se esforçou o suficiente, ou não “soube se vender.” Sempre tem um conhecido, um parente, que diz, quase rindo: “Você precisa se destacar, fazer networking!” Aquelas palavras esvaziam-se no ar, enquanto eles mesmos não movem um dedo para ajudar, nem sequer para indicar seu nome. Querem que você se vire sozinho, afinal, “cada um tem que lutar pelo seu.”
Mas quem já tentou sabe: esse caminho é feito de portas fechadas. É uma jornada solitária, onde cada vaga parece um prêmio inalcançável e cada currículo entregue é um grão de areia no deserto. E não adianta dizer que fez cursos, que estudou, que tentou – porque, no fim das contas, o que falta é o “QI,” o famoso “Quem Indica.” É o primo do chefe, o amigo do amigo que consegue as melhores oportunidades, enquanto você se afoga em sites de emprego, com promessas vazias.
E nessa solidão, o trabalhador se sente uma ilha, isolado num oceano de expectativas irreais e frases de efeito que, no fim, só servem para reforçar a frustração. “É a crise,” dizem alguns, enquanto apontam os seus próprios privilégios e viram as costas. Porque no teatro do mercado de trabalho, o trabalhador sem indicação é um mero figurante, esperando uma chance que talvez nunca venha, enquanto os aplausos são sempre para os mesmos atores principais.

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