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A Eterna Tragédia da Traição

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  Ontem me deparei com uma notícia que parecia saída das páginas mais sombrias de um folhetim policial. Uma mulher, tomada por um ciúme que nem sequer tinha provas, despejou uma panela de água fervente sobre o marido. A suspeita? Uma mensagem, talvez um boato, talvez uma ilusão. Não havia certeza mas havia a violência. E eu me pergunto: a traição é algo tão hediondo a ponto de justificar o surto, a fúria, a mutilação? Ou será que nos tornamos escravos de uma cultura que alimenta a suspeita e o ressentimento como se fossem combustíveis do amor? As estatísticas são claras: pesquisas apontam que entre 40% a 60% dos relacionamentos já sofreram algum tipo de infidelidade. Isso não é apenas um dado; é uma tragédia anunciada, repetida, cantada em refrões de música popular, em novelas e séries que fazem da traição um espetáculo. Basta lembrar a canção “50 Reais”, que fez multidões cantarem a desgraça da infidelidade como se fosse catarse coletiva. Mas pergunto: quando foi que a traição dei...

O Silêncio dos Bons é o Barulho do Desespero

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A mente de quem procura um emprego e não encontra não é um campo de batalha é um cemitério de esperanças. Cada currículo enviado é um enterro. Cada silêncio é uma cova aberta na autoestima. O desempregado não quer luxo, quer um lugar no mundo. Mas a sociedade, cínica e apressada, olha para ele como se carregasse uma praga. O silêncio dos amigos que dizem: Machado de Assis escreveria que o desempregado é uma alma que vive na antevéspera do abismo. O sujeito acorda cedo, se veste de esperança, toma café com ansiedade, e sua mente já começa o turno da angústia antes mesmo de sair da cama. diria Machado, com sua pena fina e morta E Nelson Rodrigues, se falasse do desempregado, escreveria:  Há também os que dizem: Na mente do desempregado, forma-se um ciclo cruel: Primeiro, a fé. Depois, a frustração. Em seguida, o desespero. Por fim, a indiferença – não a dos outros, mas a própria. Ele começa a crer que não serve para nada. Que talvez seja melhor parar de tentar. Começa a...

Crítica Filme a Lenda: “A Tentação Usa Vestido Preto” — Uma Tragédia em Flor e Chifre

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  “A Lenda” não é apenas um conto de fadas. É uma missa negra, um teatro grego, um beijo no rosto dado pelo diabo em pessoa. É a história de como a beleza seduz, como a pureza vacila, e como o mal — ah, o mal! — aparece mais bem vestido que todos os anjos do céu. Sinopse à moda antiga, com pecado e purpurina Jack é um jovem da floresta, meio selvagem, meio santo, completamente apaixonado por Lily, uma princesa que tem o rosto de um anjo e o coração… bem, o coração é terreno demais. Lily, como toda mulher de tragédia, não resiste à tentação de tocar o que é sagrado — os unicórnios — e com isso entrega o mundo à escuridão. A floresta mergulha na noite. O Senhor das Trevas, que parece ter saído de um pesadelo dirigido por Dante Alighieri e maquiado por um demônio apaixonado por teatro, aparece com seus chifres monumentais e sua voz cavernosa para oferecer a Lily o que ela nunca teve: o poder de ser desejada pelo próprio mal. A Tentação não é gritada. É sussurrada. O mais terrível do f...

“Bruxas de Batom e Perfume: A Maternidade Deturpada, a Criança Rata e o Mundo que Odeia os Inocentes”

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Existe um mal que se esconde de batom e perfume. Ele veste salto, fala doce, distribui balas — e mata a infância. É esse o horror mais profundo por trás do filme Convenção das Bruxas (1990), adaptação do livro de Roald Dahl. Um terror infantil que, ao ser visto com olhos cristãos e conservadores, revela um grito silencioso contra a deturpação da figura materna, o ódio às crianças e o triunfo do hedonismo disfarçado de empoderamento. O demônio da maquiagem: quando o rosto cai A cena mais emblemática do filme é quando as bruxas tiram suas “máscaras” — maquiagem, perucas, unhas postiças. É o momento em que a feminilidade de fachada dá lugar ao demônio por trás do verniz. Não é mais uma mulher: é um monstro que odeia a pureza. Como diria Olavo de Carvalho: “a mentira moderna vem bem vestida, perfumada e com diploma.” A bruxa moderna já não vive em florestas, mas em redes sociais, fóruns ideológicos, escolas progressistas. O feminismo radical, que pariu um tipo de mulher que rejeita a mater...

“A vilã que não sabia que era vilã (e o rapaz que amou demais)”

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Estava eu em casa, numa dessas noites solitárias em que a alma parece pedir companhia e o catálogo do streaming oferece melancolia em alta definição. Eis que me salta aos olhos um título conhecido: 500 Dias com Ela. Eu já tinha visto, claro. Uma vez, duas talvez. Mas ali, parado, pensei: “E se eu assistir de novo com o pensamento que tenho hoje? Será que ainda vou odiar a Summer? Será que ainda vou sentir pena do Tom?” Apertei play. E ali estava ela: Summer, a moça inteligente, enigmática, que desde o começo dizia que não queria nada sério. E ali estava ele: Tom, o arquiteto romântico, vítima das suas próprias ilusões, que insistia em projetar nela a mulher perfeita que só existia na sua cabeça — uma mistura de Amélia com a musa de um clipe dos Smiths. No primeiro olhar, Summer parecia a vilã. Depois, Tom, o bobo. Mas hoje, com o Brasil atolado até o pescoço na lama emocional das redes sociais, do Tinder, do narcisismo e da autoajuda tóxica, percebo algo muito mais fundo — e muito mais...

O Jogo de Barbante: O Retrato da Incerteza no Amor Contemporâneo

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Eu vi uma cena ontem, e, como sempre, o inevitável veio à minha mente. Estava saindo do trabalho quando avistei um homem e uma mulher se encontrando na rua. Não havia nada de extraordinário, ou ao menos parecia ser o tipo de encontro que poderia passar despercebido, se não fosse pela estranha dinâmica entre eles. O homem, visivelmente carente de algo mais, tentava beijá-la na boca. Ela, por sua vez, desviava, mas não soltava. A mulher se mantinha ali, suspensa na tensão, evitando o beijo, mas ao mesmo tempo não afastando-se. Parecia haver um jogo inusitado de “vai-não-vai”, onde cada um jogava a bola de um lado para o outro sem saber exatamente o que fazer com ela. Naquele instante, eu pensei: "Isso, meus caros, é o que chamo de barbante". Sim, um jogo onde um puxa, o outro solta, e tudo se mantém preso por um fio invisível, uma linha tênue de incertezas e expectativas não resolvidas. Uma dinâmica onde as pessoas se permitem ficar no limbo, divididas entre o que desejam e o q...

“A Caverna de Truman: A Ilusão do Mundo Perfeito e o Medo da Liberdade”

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  O filme O Show de Truman (1998), estrelado por Jim Carrey, não é apenas uma obra-prima cinematográfica, mas uma profunda alegoria moderna sobre vigilância, controle, simulacros e, sobretudo, a ilusão do “mundo perfeito”. Inspirado em uma condição psicológica conhecida como “Síndrome de Truman” — em que o indivíduo acredita estar vivendo dentro de um reality show — o filme é mais do que uma crítica ao entretenimento vazio; é um espelho da sociedade contemporânea que renunciou à realidade em nome da segurança emocional e do espetáculo. A vida de Truman é, à primeira vista, impecável: bairro limpo, vizinhos sorridentes, esposa exemplar, emprego estável. Mas tudo é falso. É uma prisão pintada de azul-céu. Como a “caverna” de Platão, ele vive entre sombras projetadas, sem saber que existe uma realidade mais dura — porém verdadeira — do lado de fora. Esse enredo nos leva a Shakespeare, que disse: “O mundo inteiro é um palco”. A diferença é que, em Truman, o ator desconhece o script. E ...