A Economia de um Filho – ou o Pai de Pet
Hoje em dia, ter um filho virou luxo. Não há dúvida: em tempos de planilhas e planilhas financeiras, criança saiu de moda. Dizem que custa caro. Muito caro. Alega-se que é um investimento de longo prazo, desses que só dá retorno emocional — e olhe lá. Em contraste, os casais modernos adotam outro tipo de herdeiro, mais “prático”, mais silencioso: o cachorro. Ou o gato. Ou qualquer criatura de quatro patas que permita uma “paternidade” menos custosa. E assim, surgiu o “pai de pet”, uma figura que tenta preencher o espaço do instinto paternal sem o peso real de criar uma vida humana.
Por trás dessa substituição, ergue-se uma nova moral: o filho é caro demais, exige tempo, paciência, noites em claro e um orçamento que parece nunca fechar. Já o pet, ah, esse é companheiro, é fiel, mas, acima de tudo, é administrável. Um pacote de ração, um plano de saúde, um veterinário aqui e ali, e pronto — temos a ilusão de família. E então, nas redes sociais, circulam as fotos com legendas onde o “filho” tem nome de gente, festa de aniversário, brinquedinho importado, até tratamento psicológico, se preciso for. O pet não dá trabalho, ele obedece ao chamado, basta um “vem cá”, e lá está o animal, disponível, devoto, amoroso. Mas filho? Filho é aquele que chora sem motivo, que te acorda à meia-noite, que exige uma paternidade sem filtros e sem folga.
No entanto, é curioso observar o que se perde nessa “economia”. Um filho não cabe no orçamento e nem nos planos bem traçados. Ele bagunça, exige, cria raízes na alma que nenhum cãozinho, por mais amado que seja, conseguirá ocupar. Um filho devolve o olhar, o riso e, às vezes, o desespero. Ele nos lembra, dia após dia, que a vida não é um plano contábil, mas uma sucessão de aflições e alegrias, de surpresas e descobertas. E o que dizer do futuro? Um cãozinho jamais se tornará seu legado, jamais carregará no rosto um traço seu, uma lembrança viva de quem você foi. Ele é fiel, sim, mas não é continuidade; é companhia sem futuro.
No fundo, a figura do “pai de pet” é uma paternidade de conveniência, uma que oferece afeto, mas não obriga a sacrifícios. E, ironicamente, custa caro também: acessórios, roupinhas, veterinário, festinhas anuais. Mas o preço emocional, o custo da vida sem herança, é um que ninguém calcula. Fica lá, em silêncio, enquanto os anos passam, e o pai de pet, envelhecendo ao lado do animal, talvez nunca sinta aquele vazio de um riso de criança que nunca veio. Talvez nunca perceba que o custo maior foi daquilo que ele deixou de viver: o privilégio de ver um pedaço de si próprio ganhando vida.
E assim, entre selfies de poodles e sorrisos falsos, a vida vai passando.
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