O Santo Evangelho Segundo as Panelinhas: Uma Crônica Sobre a Fofoca nas Paróquias
Era uma vez uma paróquia que, em vez de pecadores, acolhia personagens de novela. Ah, não se engane, caro leitor, essas não eram figuras devotas saídas de um sermão pastoral. Nada disso. Eram aquelas almas meticulosamente aferradas às pastorais como se fossem acionistas majoritárias de uma multinacional do Espírito Santo. Ninguém entra, ninguém sai. E, se tentar entrar, que Deus te proteja – vai precisar de mais que orações para sobreviver à cerimônia não-oficial do boicote passivo.
Pois é, na prática, a paróquia, que deveria ser uma extensão do altar, virou o palco de um reality show daqueles: irmãos sorridentes na frente do padre, mas que, nos bastidores, afinam a língua mais que a própria fé. O boicote é silencioso, mas feroz. A nova-velha estratégia da falsa humildade que disfarça o “não se meta na minha pastoral”. E assim, como uma máquina invisível, as “panelinhas santificadas” se organizam para manter seu círculo fechado. É o chamado círculo de oração... pelo ego.
Quem chega com o entusiasmo de um novo convertido, achando que vai fazer a diferença, acaba aprendendo rapidamente a lição número um: aqui, só fica quem for ungido pelo círculo íntimo. E assim nascem as fofocas sussurradas ao pé do ouvido, o riso disfarçado, o cochicho no corredor. Porque é muito mais fácil criticar quem está de fora do que abrir espaço para quem quer somar. Viver em comunhão? Talvez, mas desde que seja dentro das hierarquias cuidadosamente desenhadas pela elite paroquial.
No final das contas, você percebe que, para alguns, a pastoral não é apenas um lugar de acolhimento, mas uma extensão da sala de estar. Se você quiser entrar, meu amigo, tem que pedir licença e lembrar que está entrando na casa de alguém – mas esse “alguém” não é exatamente o Cristo, é a tal da *panelinha*. E quem nunca rezou o terço enquanto pensava em como tirar fulano da coordenação, que atire a primeira pedra.
Mas o mais fascinante é como eles conseguem fazer isso com um sorriso. “Seja bem-vindo, irmão!” dizem, mas é claro que, por trás dos sorrisos, você pode sentir as orações internas: “Tomara que ele não venha no próximo encontro”. É um verdadeiro espetáculo de amor cristão, onde ser acolhido é um privilégio restrito. E quem, ao menos uma vez, não foi vítima do temido boicote passivo? Aquela técnica que consiste em ignorar solenemente tudo o que você faz, enquanto te olham com uma compaixão digna de um mártir.
Então, se você estiver pensando em se voluntariar na pastoral, esteja avisado. Traga a Bíblia, sim, mas também um manual de sobrevivência social. Porque, no fim, a paróquia, que deveria ser a casa de todos, se tornou o clube exclusivo de alguns. E não adianta reclamar: eles já têm o sermão pronto para rebater. Afinal, quem realmente precisa de acolhimento quando já se tem a companhia dos próprios egozinhos santificados?
E que Deus nos livre de tentar mudar isso.
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