O Amor que Nunca Chega

 

Ah, meus amigos, o que é mais trágico do que o amor não correspondido? Que fatalidade mais grotesca do que esse beijo que nunca foi dado, essa promessa de felicidade que evapora como fumaça? No palco de nossas vidas, onde todos buscam amor, carinho, um toque sincero — e, claro, aplausos para a peça que escrevemos com o coração — há aqueles que, em vez disso, ouvem o estridente som das portas se fechando na cara. Eles estão destinados a encenar sempre o papel do rejeitado, o coitado que leva a rosa à sua amada e volta com um espinho cravado na alma.

Homens e mulheres igualmente caem nessa armadilha do destino. O homem que leva o buquê, esperando um sorriso, e recebe um "não" gelado. A mulher que suspira por alguém que não enxerga seu carinho e segue a vida como se ela fosse invisível. Essas são as almas que caminham pela cidade como náufragos, em terra firme, arrastando o peso de suas rejeições e tentando decifrar onde, afinal, foi que tudo desandou. 

E o que se faz com esse sentimento, com essa dor que mais parece uma úlcera? Uns se entregam ao ódio e à amargura, transformando o mundo inteiro em um grande teatro de falsidades e frivolidades. "O amor não existe", dizem, como se pudessem anestesiar o próprio coração ao condenar todos os corações do mundo. Outros, os mais radicais, tentam vestir a máscara do cínico, alegando que "não ligam", que "a vida é assim mesmo", mas basta uma brisa de nostalgia para desfazer o disfarce, e ali estão eles, novamente, chorando no escuro.

Mas talvez, meus caros, haja uma outra saída. Algo que não consiste em endurecer-se nem em transformar-se em um sentimental patético que revira os álbuns de fotografias e enche-se de esperança ao ouvir uma música antiga. Talvez o segredo esteja em aceitar a condição de náufrago, sim, mas em fazer das águas do próprio abandono um refúgio de amor próprio. Aprender a dançar sozinho, a rir sem plateia, a jantar sob a luz de velas — ainda que seja apenas a chama de uma velha lâmpada de cozinha.

E, acima de tudo, compreender que a rejeição não é uma condenação ao vazio, mas um espelho que nos obriga a confrontar quem somos sem a máscara do desejo alheio. Talvez o rejeitado deva se perguntar: quem sou eu, afinal, quando ninguém me deseja? Porque, ao final, essa é a pergunta que define o verdadeiro amor — o amor próprio.

Só quando o náufrago aceita a solidão e aprende a caminhar com a dignidade de quem não precisa ser amado para ser inteiro, ele estará pronto para o milagre que é o amor de verdade. Pois, como dizia o outro, é preciso ter caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançante. E quem sabe, meus amigos, que depois de tantas rejeições, dessas feridas, não nasça enfim um amor que chegue não para remendar, mas para dançar.

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