Chiara Corbella: A Santa que Rasgou o Manual do Desespero

Chiara Corbella foi dessas mulheres que só se encontra nas fábulas — ou naquelas histórias mal contadas que a avó repete na sala de estar. De aparência frágil, mas com uma força que esmagaria os nossos frágeis conceitos de amor, ela ousou rasgar o manual do desespero com a mesma elegância com que se quebra um cristal. Em tempos de contratos pré-nupciais, amores calculados e medo de se entregar, ela provou que o verdadeiro amor ainda é possível, mesmo à beira da morte.

Quando Chiara soube que a vida não lhe daria o tempo que a maioria de nós toma por garantido, decidiu que cada minuto seria um ato de amor. Fez o que poucos fariam: recusou os tratamentos agressivos que poderiam prolongar sua vida, mas colocariam em risco a criança que carregava no ventre. Nasceu Francesco, seu filho, e, ao contrário dos contos de fadas que terminam com um "felizes para sempre", a história de Chiara avançava rumo a um final que, aos olhos de muitos, seria o epílogo mais triste possível. E foi ali, quando todos esperavam o desespero, que ela surpreendeu.

Chiara não apenas aceitou a morte; ela a abraçou. Com o mesmo amor tranquilo e devoto com que se escreve uma carta a um amigo querido, escreveu uma carta a Francesco. Poderia ser um testamento trágico, uma despedida amargurada, mas foi, ao contrário, um ato de esperança. Disse ao filho que a vida valia a pena, mesmo quando tudo parecia desmoronar. "A vida é um presente, Francesco", escreveu, como quem desafia a plateia a rir de uma piada que só os santos entenderiam.

O que Chiara fez foi colocar um espelho na frente de todos nós, de nossos amores banais e de nossas pequenas tragédias cotidianas. Enquanto nos desesperamos por cada rejeição e nos trancamos em nossos medos mesquinhos, ela, com um sorriso, aceitou o que muitos de nós jamais aceitariam. E deixou um legado que nenhuma teoria dos jogos pode prever: o amor, aquele que não pode ser medido, pesado ou quantificado.

Chiara Corbella, a mulher que morreu jovem, que sofreu dores que não desejaríamos ao pior dos inimigos, e que, ainda assim, sorria. Porque, no final das contas, ela sabia o que todos nós teimamos em esquecer: que amar é um risco, e que, sim, às vezes dói. Mas é um risco que vale cada lágrima, cada sorriso, cada carta escrita com a esperança de que o amor verdadeiro existe, mesmo quando o mundo insiste em nos provar o contrário. 

E lá estava ela, partindo de forma serena, deixando um filho e um testemunho. Provando que, mesmo diante da morte, o amor pode ser eterno. Provando que não precisamos de certezas matemáticas ou garantias racionais — basta a fé, esse eterno ato de loucura que os santos e poetas parecem entender tão bem.

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