A Inveja Cega do Brasileiro: Um Amor Obsessivo pelo Vizinho

 

No Brasil, a inveja é a chaga que devora as relações humanas. É uma praga silenciosa, rasteira, que se disfarça de comentário inocente, de sorriso enviesado e de um elogio maldito. O brasileiro médio, esse ser humano cordial, de coração mole e sorriso fácil, tem na inveja seu amor mais secreto. E o pior de tudo: ele nem percebe.

Há quem diga que a inveja é um pecado menor, coisa de alma pequena, mas eu, Nelson Rodrigues, lhes asseguro que ela é um dos maiores cânceres morais do nosso tempo. A inveja do brasileiro não é apenas pelo que o outro tem; é pelo que ele é, pelo que representa, pelo brilho que ele carrega mesmo sem querer. Se o vizinho comprou um carro novo, não é o carro em si que desperta o olhar torcido, mas o fato de que aquele carro parece anunciar que o vizinho, de algum jeito, venceu. E isso dói.

A inveja no Brasil não está mais restrita às fofocas da vizinhança ou aos comentários da tia do zap. Ela se infiltrou nas amizades, nas famílias, nos ambientes de trabalho, nos corredores das escolas e até na igreja. Ela destrói o casamento do próximo, a carreira do amigo e o futuro do filho, e tudo com a leveza de quem solta um "eu só acho que...". Invejar é criticar o sucesso do outro sem levantar a voz, é elogiar com um olho cheio de ressentimento.

O brasileiro médio, ao invejar, se vê em um espelho trincado. Não percebe que seu desgosto é consigo mesmo, que a raiva disfarçada de opinião é, na verdade, um grito desesperado de frustração por não ser o que poderia ter sido. A inveja é a adoração às avessas: não se deseja o que o outro possui, mas se quer que ele perca. E, assim, destruímos nossas próprias relações, desvalorizamos as amizades, e afastamos quem mais nos poderia ajudar.

Não é à toa que o brasileiro desconfia até da sombra que o acompanha. Nas festas, o sorriso é um esgar disfarçado de felicidade alheia, nas conversas, as gentilezas são farpas sutis, e nos aplausos, o barulho é de uma plateia esperando a queda. A inveja é o vírus que contamina tudo e transforma qualquer relacionamento em um campo minado, pronto para explodir ao menor sucesso alheio.

E o que resta ao fim desse espetáculo? Apenas a solidão do invejoso, que ao tentar puxar o outro para baixo, cava sua própria cova. O brasileiro médio, na sua miopia afetiva, não percebe que a inveja é um castigo autoimposto, um sofrimento sem redenção. Ele acha que apenas está sendo “realista”, mas está, na verdade, destruindo aquilo que mais importa: as relações que nos fazem humanos.

A inveja, no Brasil, é a incapacidade de celebrar a vitória do outro e, assim, nos tornamos um país que aplaude mais as derrotas do que as conquistas. E o pior é que o brasileiro médio nem se dá conta de que, ao destruir o sucesso alheio, destrói também a si mesmo. Afinal, só é verdadeiramente feliz quem consegue admirar o brilho de outra pessoa sem se apagar.

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