Crítica : A História de um Divórcio - Até que o Ego Nos Separe


Nada poderia ser mais moderno e mais trágico do que o filme A História de um Divórcio. Ali está a essência de um casamento que foi, desde o início, condenado a ser uma tragédia burguesa. O espectador, iludido pelo charme dos personagens e pela fotografia impecável, assiste a uma autópsia sentimental que escancara os vícios do casamento contemporâneo — uma instituição que, hoje, é levada ao altar como quem vai ao sacrifício, mas que logo se entrega ao altar do divórcio com a mesma facilidade de quem troca de roupa.

De certo, A História de um Divórcio não é apenas sobre um casal que se separa. É sobre uma sociedade que perdeu a noção do que é sacrifício, do que é compromisso, e que escolheu o individualismo como lema para a vida. Charlie e Nicole são vítimas e algozes, são a personificação de um casal que, ao tentar se salvar da monotonia, se afunda cada vez mais no egoísmo. Eles se amaram, sim, mas o amor deles sempre teve prazo de validade — o prazo da primeira crise, da primeira dificuldade, da primeira vez em que o “eu” se sobrepôs ao “nós”.

No fundo, o que se vê é o drama de uma geração que não sabe mais o que é a renúncia. Charlie e Nicole se dizem apaixonados, mas logo descobrem que, na prática, a paixão é insuficiente para sustentar uma vida a dois. O matrimônio, visto pelos olhos católicos, é um sacramento, uma entrega diária e constante, não um contrato social que pode ser quebrado ao primeiro sinal de desgaste. Ali, no filme, cada cena é um ato de egoísmo disfarçado de justiça — a justiça do "eu tenho o direito de ser feliz", a justiça de quem, na ânsia de liberdade, esquece que o verdadeiro amor exige prisões voluntárias.

Nicole, a esposa que deseja “ser ela mesma”, escolhe o caminho da independência a qualquer custo. E Charlie, o marido ferido, transforma a dor em uma batalha judicial. Mas onde está o sacrifício? Onde está o perdão? Onde está a abnegação? É aí que o filme mostra sua face mais cruel: ao invés de ensinar o casal a atravessar a dor juntos, o enredo prefere mostrar que a solução é a ruptura, a separação, a promessa vazia de que, fora do casamento, a felicidade é garantida.

A História de um Divórcio é um retrato do casamento moderno, onde a união sagrada foi substituída por acordos de conveniência e onde a paciência é uma virtude em extinção. No final, cada um se refugia no próprio ego, e o “felizes para sempre” se transforma no “solteiros para sempre”, como se o amor verdadeiro fosse apenas um detalhe a ser negociado.

O filme tenta nos convencer de que Charlie e Nicole são vítimas das circunstâncias, quando, na verdade, eles são vítimas de si mesmos. Vítimas de um amor que nunca soube ser maduro, que nunca quis carregar a cruz, que nunca aceitou que o casamento é uma missão sagrada e não um espetáculo romântico de duas horas e meia. Porque, como o casamento não é o inferno nem o paraíso — é o purgatório. E, no purgatório do amor, só os fortes sobrevivem.

Se A História de um Divórcio tem algum mérito, é o de mostrar, de forma crua e sem rodeios, o que acontece quando o matrimônio é apenas um laço frágil, pronto a se romper na primeira ventania. É uma história que termina sem vencedores, porque o verdadeiro vencedor seria aquele que escolhesse ficar — que enfrentasse as tempestades, que perdoasse as mágoas, que aceitasse que amar é também sofrer.

O que o filme nos ensina, sob uma perspectiva católica, é que a felicidade que Charlie e Nicole tanto procuram nunca será encontrada nos tribunais de divórcio, mas nas pequenas renúncias do dia a dia, na disposição de lutar pelo outro mesmo quando tudo parece perdido. No final, o casamento moderno, tal como apresentado no filme, não é uma união de almas, mas uma tolice de corações que nunca souberam o que é amar. O verdadeiro amor não é perfeito, mas é, acima de tudo, perseverante. E esse, infelizmente, não é o amor de “A História de um Divórcio”.

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