Crônica: "André, o Apóstolo da Simplicidade


Ah, o apóstolo André! Um nome que muitos pronunciam sem pensar, como se fosse uma nota de rodapé nos Evangelhos. Mas, a verdade é que, em tempos de ego inflado e de vaidades explícitas, o bom e velho André tem muito a nos ensinar. Porque ele, diferente dos outros, não era um homem de grandes gestos ou de discursos inflamados. Não, senhor. André era, simplesmente, o irmão de Pedro. O sujeito que aparece sempre nas sombras, nos bastidores da fé, com uma modéstia quase escandalosa para os padrões de hoje.

O que é ser o "irmão de Pedro", afinal? É ser aquele que faz o serviço invisível, o trabalho de formiguinha, o que não se importa em ceder o palco e a glória. André foi o primeiro a seguir Jesus e, no entanto, nunca se tornou o grande líder, o grande herói que arrasta multidões. A modernidade, é claro, despreza esse tipo de homem. Em um mundo de flashes, selfies e redes sociais, quem quer ser o coadjuvante da história? Quem aceita ser o André, o sujeito que não reclama a liderança, que não ergue a voz, que não ambiciona o trono?

Mas André tinha um dom raro: a simplicidade do olhar. Foi ele que trouxe Pedro até Jesus. Pense nisso: se não fosse pelo discreto André, o apóstolo Pedro, a rocha da Igreja, talvez nunca tivesse encontrado o Cristo. O que seria da humanidade se não houvesse aqueles que, como André, preferem apontar para a verdade ao invés de ser a verdade? André foi o eterno intermediário, o homem que dizia: "Olhem para Ele, não para mim." E, num mundo onde todos querem ser seguidos, André só queria seguir.

E que ironia deliciosa é essa! Porque, enquanto seus contemporâneos apóstolos disputavam quem sentaria à direita ou à esquerda de Jesus, André estava preocupado com as pequenas coisas, com a pesca do cotidiano, com a proximidade do irmão, com a acolhida dos desconhecidos. Foi ele, dizem os Evangelhos, que apresentou o menino com os pães e os peixes a Jesus. Esse é André: aquele que sabe que os milagres começam com o mínimo, que Deus trabalha a partir do simples.

O apóstolo André é o santo padroeiro de todos aqueles que não têm pressa, que não desejam os holofotes, que fazem o bem de forma quase anônima. É o santo dos que preferem o trabalho pequeno, o detalhe que ninguém nota. E como nos faz falta um André nos dias de hoje! Quando foi que perdemos a capacidade de valorizar o pequeno, o escondido, o que parece insignificante? A verdade é que André seria ridicularizado em nossa época, visto como um tolo sem ambição, sem visão, sem projeto de poder. 

Eu diria mais: André é o santo dos esquecidos, dos que não têm perfil para CEO, dos que fazem o trabalho no escuro e deixam os outros colherem os aplausos. É o santo dos introvertidos, dos que nunca tomam a palavra primeiro, dos que sabem que a grandeza está no serviço, e não na aparência. Ele é, no fundo, o anti-Judas. Onde Judas traía por não entender o Messias, André compreendia silenciosamente, com uma fé que não precisava de muitas palavras.

E o que ele nos ensina, no final? Ensina que a vida é feita de pequenos gestos. Que os grandes homens são, muitas vezes, aqueles que jamais serão lembrados. Que a história da fé não se constrói com mármores imponentes, mas com a simplicidade dos que acreditam sem alarde, dos que seguem sem perguntar, dos que apontam o caminho sem caminhar na frente.

Então, pense bem, meu caro leitor: da próxima vez que quiser ser Pedro, lembre-se de que, para cada Pedro que brilha, há sempre um André que o trouxe à luz. E não há maior nobreza do que essa, de ser o anônimo, de ser o que indica o caminho e depois desaparece na multidão. 

No fim das contas, o segredo de André é que ele sabia a verdade que poucos ousam admitir: que o caminho do Reino de Deus não passa pelos palácios, mas pelas vielas simples e discretas da vida. E isso, meu amigo, é algo que a modernidade jamais entenderá.

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